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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Comentário da Lição 06




Lição 6 - Deus, o Legislador


Sobre o autor: Edilson Valiante nasceu em São Paulo. Formou-se em Teologia em 1979. Por mais de 20 anos serviu como professor da Faculdade Adventista de Teologia. Foi distrital, departamental de Educação e JA. Atualmente é o Secretário Ministerial da União Central Brasileira. Casado com a professora Nely Doll Valiante, tem dois filhos: Luciene e Eduardo.

Introdução
    A expressão torah é a mais comum no Antigo Testamento para “lei”. Ela contém um rico significado, sendo traduzida também comoordem, instrução, estatuto e ensino. Nessa palavra estão incluídas tanto a lei moral como as leis civis, sanitárias, comunitárias, cerimoniais e até os cinco primeiros livros da Bíblia, o Pentateuco de Moisés. Em suma, tudo aquilo que pudesse representar a vontade revelada de Deus poderia ser chamado de torah.

    O termo grego do Novo Testamento que equivale à expressão hebraica torah é nomos. No seu contexto bíblico, possui igualmente um significado vasto, podendo ser “a vontade de Deus” (Jo 15:25), “o Pentateuco” (Mt 7:12), “os 10 mandamentos” (Tg 2:10-12), “as leis cerimoniais” (At 15:1) e até toda uma tradição religiosa dentro do judaísmo farisaico/rabínico como apresentado em Gálatas.

    Como vimos, a Bíblia possui uma quantidade considerável de leis. É comum que essas leis sejam confundidas entre si. Mesmo porque elas foram promulgadas por Deus. Contudo, temos que entender seu propósito, sua extensão, aplicação e vigência no tempo.

    Leis de caráter físico (leis naturais). São as leis que regem o Universo material, como a lei da gravidade e da saúde.

    Leis que existiam antes da entrada do pecado. O sábado e a lei que proibia tocar no fruto da árvore da ciência do bem e do mal são exemplos.

    Leis cerimoniais. Essas leis aparecem logo em Gênesis 4, quando Caim e Abel são ensinados a oferecer sacrifícios. Os patriarcas ofereciam seus holocaustos. O sistema levítico e a construção do tabernáculo (e depois o templo) era uma elaboração dessa lei cerimonial que tinha como objetivo direto ilustrar o plano da redenção e o Grande Conflito (ver os livros de Levíticos e Hebreus). Se os sacrifícios representavam tipologicamente Cristo, as leis cerimoniais foram estabelecidas com prazo de validade.

    Leis civis e comunitárias. Há na Bíblia uma quantidade de princípios ordenados por Deus para que as relações pessoais e nacionais fossem mantidas. As leis que falavam da posse da terra e dos casamentos, do jubileu são exemplos. O objetivo delas era preservar a justiça social e a equidade.

    Lei moral ou os 10 mandamentos (Decálogo). São princípios singulares que estabelecem os valores morais e éticos sob os quais os seres humanos devem nortear sua vida em todos os tempos e lugares. Essa lei é, portanto, de caráter universal. É a expressão máxima da vontade de Deus para o ser humano, bem como uma revelação de Sua santidade (especialmente os quatro primeiros mandamentos).

    Os Dez Mandamentos foram dados em forma negativa para definir sua exatidão. Há sempre uma tendência humana de relativizar a vontade de Deus e a forma negativa dos mandamentos não deixa possibilidade para equívocos quanto à Sua vontade.

    Há duas motivações claras para que o Decálogo fosse dado ao povo de Deus: Ele é o nosso Deus e nos liberta da servidão e do pecado.
    Nos Dez Mandamentos, Deus é o Legislador e o Redentor ao mesmo tempo.

    Os dois primeiros mandamentos definem o caráter dos demais: nosso Deus Se preocupa com santidade, família e relacionamentos. Não pode tolerar infidelidade.

    O terceiro e o quarto mandamentos tratam das coisas sagradas: Seu nome e Seu dia de adoração.

    Do quinto ao sétimo mandamento Deus estabelece o valor da família, da sexualidade e da vida.

    Os últimos mandamentos tratam da relação entre os indivíduos e a sociedade.

    Os Dez Mandamentos aparecem expressos em duas ocasiões no Pentateuco: em Êxodo 20 (destacando Deus como Criador) e em Deuteronômio 5 (destacando Deus como Redentor e Libertador).

    Assim, o Decálogo pode ser sumarizado em dois grandes princípios: Amor a Deus e amor ao próximo (Mt 22:37-40).

    A maneira de Deus revelar os Dez Mandamentos em forma escrita (já existia em forma oral) é totalmente distinta da instauração de outras leis presentes na Bíblia. O texto foi escrito pelo próprio “dedo de Deus”.

    A experiência da autorrevelação de Deus ao povo de Israel no Sinai com o Decálogo foi tão impactante que o próprio conceito de vida e existência passou a ser mediado por esses princípios, ora por rejeição (como durante a história dos reis de Israel e Judá) ora por absoluto fanatismo (como entre os fariseus e o judaísmo rabínico).

A Lei é expressão do caráter de Deus
    Se a vontade de Deus está expressa de forma objetiva na Sua lei, duas coisas podem ser deduzidas: ela é imutável e é a expressão de Seu caráter.

    A lei permanecerá em vigência enquanto o caráter de Deus estiver inalterado. Como Deus é sempre o mesmo (Sl 102:25-27) e Cristo é sempre o mesmo (Hb 13:8), a lei Deus sempre será a mesma.

    Muitos dos atributos de Deus são encontrados na lei. Como Deus, a lei é perfeita, santa, pura, justa, boa (Sl 19:7-8; Rm 7:12).

    No drama do Grande Conflito, é obvio que Satanás luta contra o caráter de Deus expresso em Sua lei. Com isso entendemos a disposição do inimigo em se opor violentamente à lei. Sem dúvida, uma das evidências mais claras de que a lei é o reflexo do caráter de Deus é o incomensurável ataque de Satanás contra a lei. Com certeza, se os princípios da lei forem desqualificados, ficará muito mais fácil induzir os seres humanos a se voltar contra Deus. O arquienganador tem sido bem-sucedido em seus esforços, pois o atributo divino de legislador é o menos compreendido pela teologia cristã.

    Deus é amor (1Jo 4:8) e todos aqueles que O amam, reconhecem Seu amor, Sua vontade e guardam Seus mandamentos (1Jo 2:3-6).

    Amor é o princípio fundamental da lei. Jesus usou textos de Deuteronômio (6:4) e Levítico (19:18) para expressar a essência da lei – amor a Deus e amor ao próximo. Paulo expõe a lei nos mesmos termos em Romanos 13:8-9. Assim, cada um dos mandamentos reflete amor e, ao mesmo tempo, revela a natureza egoísta do ser humano. Não é possível, portanto, guardar os mandamentos sem que o amor seja a real força direcionadora, isto é, a obediência verdadeira sempre se origina no coração e se realiza na prática pelo amor. A obediência à lei que não vem do amor é incapaz de cumprir a exigência que ela reclama. Se alguém tentar fazer isso, o resultado será uma religião formal, baseada em uma atitude farisaica ou legalista.

    O Decálogo é de natureza espiritual. Paulo deixa evidente em Romanos 7:14 que “a lei é espiritual”. A partir dessa compreensão, é possível tirar algumas conclusões:

    Se eu tento guardar a lei de forma exterior ou formal, destituída de espiritualidade, certamente me tornarei um legalista, apenas tentando cumprir exigências.

    Se a lei é espiritual, ela jamais me leva a algo errado ou destrutivo. A lei em si não é má porque revela minha maldade, meus pecados. É o pecado que me escraviza, e não a lei. Esta, ao contrário, me conduz à verdadeira liberdade. No Sermão da Montanha, Jesus deixou claro o caráter espiritual da lei e sua função na vida do crente.

    Se a lei é espiritual, ela revela meus pecados e me conduz a Cristo. Sua vida em plena obediência à lei e Sua morte em meu lugar me leva a concluir que Jesus cumpriu a lei e não a aboliu. O próprio sacrifício de Cristo na cruz comprova que Deus não aboliu a lei moral. Ao aceitar Cristo, recebo essa obediência vicariamente. Cristo cumpriu a lei para me dar liberdade contra o pecado e não a “liberdade” para transgredir a lei.

    Se a lei é espiritual, ela é imutável. É isso que vemos no livro de Apocalipse: a lei é uma marca encontrada no remanescente quando Jesus voltar (14:12).

    Ellen G. White expõe de forma inspirada a relação entre o pecado, a lei e a liberdade que há em Cristo. “Muitos ensinadores religiosos afirmam que Cristo, por Sua morte, aboliu a lei, e, em virtude disso, os homens estão livres de suas reivindicações. Alguns há que a representam como um jugo penoso; e em contraste com a servidão da lei apresentam a liberdade a ser desfrutada sob o evangelho.

“Não foi, porém, assim que profetas e apóstolos consideravam a santa lei de Deus. Disse Davi: ‘Andarei em liberdade, pois busquei os Teus preceitos’ (Sl 119:45). O apóstolo Tiago, que escreveu depois da morte de Cristo, se refere ao decálogo como a ‘lei real’ e a ‘lei perfeita da liberdade’ (Tg 2:8; 1:25). E o livro  do Apocalipse, meio século depois da crucifixão, pronunciou uma bênção aos que ‘guardam os Seus mandamentos, para que tenham direito à árvore da vida, e possam entrar na cidade pelas portas’ (Ap 22:14).

“A declaração de que Cristo por Sua morte aboliu a lei do Pai, não tem fundamento. Se tivesse sido possível mudar a lei, ou pô-la de parte, não teria sido necessário que Cristo morresse para salvar o homem da pena do pecado. A morte de Cristo, longe de abolir a lei, prova que ela é imutável. O Filho do homem veio para ‘engrandecer a lei, e torná-la gloriosa’ (Is 42:21). Disse Ele: ‘Não cuideis que vim destruir a lei’; ‘até que o céu e a Terra passem nem um jota ou um til se omitirá da lei’ (Mt 5:17 e 18). E, com relação a Si mesmo, declarou Ele: ‘Deleito-Me em fazer a Tua vontade, ó Deus Meu; sim, a Tua lei está dentro do Meu coração’ (Sl 40:8).


“A lei de Deus, por sua própria natureza, é imutável. É uma revelação da vontade e caráter do Autor. Deus é amor e Sua lei é amor. Seus dois grandes princípios são amor a Deus e amor ao ser humano. ‘O cumprimento da lei é o amor’ (Rm 13:10). O caráter de Deus é justiça e verdade; essa é a natureza de Sua lei. Diz o salmista: ‘Tua lei é a verdade’; ‘todos os Teus mandamentos são justiça’ (Sl 119:142 e 172). E o apóstolo Paulo declara: ‘A lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom’ (Rm 7:12). Tal lei, sendo expressão do pensamento e vontade de Deus, deve ser tão duradoura como Seu Autor.


“É obra da conversão e santificação reconciliar os homens com Deus, pondo-os em harmonia com os princípios de Sua lei. No princípio, o homem foi criado à imagem de Deus. Estava em perfeita harmonia com a natureza e com a lei de Deus; os princípios da justiça lhe estavam escritos no coração. O pecado, porém, alienou-o do Criador. Não mais refletia a imagem divina. O coração estava em guerra com os princípios da lei de Deus. ‘A inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser’ (Rm 8:7). Mas ‘Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito’ (Jo 3:16), para que o homem pudesse reconciliar-se com Ele. Mediante os méritos de Cristo, o ser humano pode se restabelecer à harmonia com o Criador. O coração deve ser renovado pela graça divina; deve receber nova vida de cima. Essa mudança é o novo nascimento, sem a qual, diz Jesus, o homem ‘não pode ver o reino de Deus’.


“O primeiro passo na reconciliação com Deus, é a convicção de pecado. ‘Pecado é o quebrantamento da lei.’ ‘Pela lei vem o conhecimento do pecado.’ (1Jo 3:4; Rm 3:20) A fim de ver sua culpa, o pecador deve provar o próprio caráter pela grande norma divina de justiça. É um espelho que mostra a perfeição de um viver justo, habilitando o pecador a discernir seus defeitos de caráter.


“A lei revela ao homem os seus pecados, mas não provê remédio. Ao mesmo tempo que promete vida ao obediente, declara que a morte é o quinhão do transgressor. Unicamente o evangelho de Cristo o pode livrar da condenação ou contaminação do pecado. Ele deve exercer o arrependimento em relação a Deus, cuja lei transgrediu, e fé em Cristo, seu sacrifício expiatório. Assim, ele obtém ‘remissão dos pecados passados’ e se torna participante da natureza divina. É filho de Deus, tendo recebido o espírito de adoção, pelo qual clama: ‘Aba, Pai!’


“Estaria agora na liberdade de transgredir a lei de Deus? Diz Paulo: ‘Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma, antes estabelecemos a lei.’ ‘Nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?’ E João declara: ‘Esta é a caridade de Deus: que guardemos os Seus mandamentos; e os Seus mandamentos não são pesados’ (Rm 3:31; 6:2; 1Jo 5:3) No novo nascimento o coração é posto em harmonia com Deus, ao colocar-se em conformidade com Sua lei. Quando esta poderosa transformação se efetua no pecador, ele passa da morte para a vida, do pecado para a santidade, da transgressão e rebelião para a obediência e lealdade” (GC, 466-468).


    Quais são os propósitos da lei?

    Evidentemente, a lei moral não foi dada com o objetivo de resolver o problema do pecado. Muito menos servir como instrumento de salvação, como imaginavam os fariseus. A lei existia antes do pecado, pois sem lei não haveria pecado. A lei moral de Deus é universal e eterna como o próprio Deus.

    Visto ser a lei a expressão do caráter de Deus, ela tem como propósito fornecer definições quanto à santidade de Deus e dizer qual seria o estado de santidade que devem ter Seus filhos, mesmo depois do pecado. Na santificação, o ser humano é dotado pelo Espírito de poder para ter uma vida santa (em obediência e harmonia com Deus e com os semelhantes).

    A lei é um símbolo de obediência e amor (Jo 14:15, 21, 24).

    Por outro lado, como diz 1 Coríntios 15:56, a lei é “a força do pecado”, pois torna o pecado um ato de rebelião clara contra os princípios estabelecidos por Deus. Pecado é transgressão da lei e aberta rebelião contra o Legislador.

    A lei é o “aio” (pedagogo) que, ao me convencer de que sou pecador, me conduz a Cristo (Gl 3:22-24).

    A lei tem um caráter civil. Lutero e Calvino indicavam que o ser humano, vivendo em uma sociedade cristã, deve nortear seus relacionamentos pelos mandamentos. Como fizeram outros teólogos, Lutero e Calvino diziam que há mandamentos que são naturais ao ser humano (não matar, por exemplo) e outros que têm origem na revelação (como os primeiros quatro mandamentos).

    Agostinho, em sua obra Confissões, afirma que a lei chega até a instigar o pecado. Quando a fruta está no terreno do vizinho ela é mais saborosa... Essa é uma indicação de que a lei chega a provocar a prática do pecado.

Perpetuidade da Lei Moral
    Se a lei é eterna, sua autoridade prevalece acima de tempo e lugar. A perpetuidade da lei é identificada do Gênesis ao Apocalipse.
     A lei antes do Sinai.

    Os mandamentos não aparecem de forma explícita como preceitos de um Decálogo antes do Sinai, mas os princípios que estabelecem cada mandamento são evidentes antes de Êxodo 20.

    As instruções dadas por Jacó aos seus filhos quanto à adoração em Betel evidenciam o conhecimento que ele tinha dos dois primeiros mandamentos (Gn 35:2-3).

    O terceiro mandamento é aludido por Abraão quando faz seu servo jurar pelo Senhor (Gn 24:3).

    A santidade do sábado do quarto mandamento está presente logo em Gênesis 2. O maná não era concedido ao povo de Israel aos sábados e isso antes da promulgação da lei (Êx 16).

    O quinto mandamento é aludido na conversa entre o Senhor e Abraão antes da destruição de Sodoma e Gomorra (Gn 18:19).

    O sexto mandamento é frequentemente trazido à tona desde o evento de Gênesis 4, com o assassinato de Abel por Caim. Os irmãos de José mostram a validade do mandamento ao pouparem a vida de José.

    Abraão e o “oferecimento” de Sara ao faraó e a experiência de José diante da esposa de Potifar mostram que os patriarcas tinham muito claro o perigo expresso da transgressão do sétimo mandamento.

    O oitavo mandamento estava na mente dos filhos de Jacó quando foram acusados de ter roubado o copo pertencente à autoridade egípcia (Gn 44:8).

    Quando Jacó enganou seu pai Isaque e quando foi enganado por seu sogro Labão, evidenciaram o conhecimento do nono mandamento.

    O décimo mandamento serve de pano de fundo para a história entre Abraão e faraó e, novamente, entre Abraão e Abimeleque. O próprio anseio de Jacó pelo direito de primogenitura indica o conhecimento do mandamento (Gn 27).

    É marcante como o livro de Jó demonstra conhecimento da lei de Deus, especialmente no capítulo 31. Ali, vários mandamentos são claramente aludidos. Jó tinha o discernimento absoluto da justiça de Deus e de Seu julgamento.

    V. 1: cobiçar mulheres
    V. 5: falsidade e engano
    V. 9: sedução por mulher
    V. 13: justiça aos servos e servas
    V. 24ss: adoração ao Deus verdadeiro

    A referência de Paulo em Romanos 5:13, de que não haveria pecado antes da existência da lei, mostra que esta existia sob forma oral desde a criação. Se assim não fosse, como conclui Paulo, Adão e Eva não teriam pecado. O mesmo argumento é usado em relação à morte. Se o pecado leva à morte e é a lei que determina a morte e se a “morte reinou desde Adão a Moisés”, assim a lei é anterior a Moisés (Rm 5:14-16).

    A revelação dos mandamentos de forma explícita no Sinai evidencia a aliança que Deus desejava estabelecer com Seu povo. O propósito da escolha do povo de Israel não era um fim em si mesmo (exclusividade), mas seria uma ilustração do Deus verdadeiro diante das nações. Assim, a lei moral dada a Israel deveria eventualmente ser admitida por todos os povos. O caráter universal da lei não foi reduzido no Sinai para ser de exclusividade a Israel. Ao contrário, Israel representaria diante das nações a universalidade da lei. Infelizmente, eles não compreenderam assim e julgaram ter bênçãos exclusivas de Deus em virtude de a lei ter sido revelada a eles. Aqui se encontra a origem daquilo que a Bíblia fala de “antiga aliança” (a transformação de uma aliança universal em uma aliança exclusiva). O Mishnah chega ao absurdo de entender que a exclusividade é que fazia de Israel a única nação que poderia ser abençoada. A lei era uma bênção exclusiva de Israel e quanto mais leis eles tivessem, maiores seriam as bênçãos. Por isso foram multiplicadas as tradições em torno da lei e se entendeu que a salvação deveria ser mediada pela lei exclusivamente.

    Os Dez Mandamentos serviram de base para o estabelecimento da aliança entre Deus e Seu povo (Israel). A mesma base está presente em qualquer ocasião em que Deus estabeleça Seus concertos com os seres humanos. O problema não está na “base”, mas na maneira de se responder a ela. O cristão está sob a mesma circunstância. A experiência da fé em Cristo faz da lei um sinal de obediência à vontade de Deus em amor. Não somos salvos pela obediência à lei, mas porque somos salvos, obedecemos à lei.

    A lei moral cobra compromisso pessoal com o Criador e Libertador e não com uma instituição jurídica. A lei é essencialmente relacional. Ela produz vida, alegria e justiça (familiar e civil).

    A perpetuidade da lei é confirmada pelos ensinos, vida e morte de Jesus.

    Ao Jesus atestar a igualdade entre os mandamentos (Mt 22:35ss), Ele estava descaracterizando a compreensão rabínica que estabelecia uma hierarquia entre os mandamentos. Os fariseus pensavam que, caso um se opusesse ao outro a observância do maior dava liberdade de desobediência a um menor. Para Jesus, todos os mandamentos são importantes e devem ser observados.

    Jesus exemplificou a lei. Para Ele, a lei era essencialmente amor.

    A perpetuidade da lei é claramente defendida por Jesus, como em Mateus 5:18.

    Na história do jovem rico, Jesus expôs a maneira legalista de guardar a lei em contraste com a forma relacional. O jovem não se recusou a guardar os mandamentos; ele se recusou a seguir o Legislador (Mc 10:21).

    No relato da mulher pega em adultério, Jesus novamente ratificou a autoridade da lei quando disse a ela “vai e não peques mais” (Jo 8:11).

    Como já foi aqui exposto, a cruz é a maior prova da perpetuidade da lei. Aquele que aceita o Legislador como seu Salvador pessoal, passou da morte para a vida.

    Paulo não apenas guardou a lei, mas mostrou o propósito da lei. A lei não salva e não torna ninguém pecador. A lei traz o conhecimento do pecado e faz o pecador saber que está vivendo em pecado. Assim, o que cria a culpa não é a lei, mas o pecado. Como a lei é “santa, justa e boa” ela mostra o que o pecador não é: nem santo, nem justo, nem bom.

    No Apocalipse, a lei ganha um caráter escatológico:
    Satanás faz guerra contra os que guardam a lei (Ap 12:17).

    A marca dos salvos está ligada à guarda dos mandamentos (Ap 14:12).

    O lago de fogo é o fim daqueles que não guardam a lei (Ap 21:7-8). Assim, a lei é o critério para a condenação dos ímpios.

    Crença fundamental nº 19: “Os grandes princípios da lei de Deus são incorporados nos Dez Mandamentos e exemplificados na vida de Cristo. Expressam o amor, a vontade e os propósitos de Deus acerca da conduta e das relações humanas e são obrigatórios a todas as pessoas, em todas as épocas. Esses preceitos constituem a base do concerto de Deus com Seu povo e a norma no julgamento de Deus. Por meio da atuação do Espírito Santo, eles apontam para o pecado e despertam o senso da necessidade de um Salvador. A salvação é inteiramente pela graça, e não pelas obras, mas seu fruto é a obediência aos mandamentos. Essa obediência desenvolve o caráter cristão e resulta numa sensação de bem-estar. É uma evidência de nosso amor ao Senhor e de nossa solicitude por nossos semelhantes. A obediência da fé demonstra o poder de Cristo para transformar vidas e fortalece, portanto, o testemunho cristão.”

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

comentário da lição 05




Lição 5 - A santidade de Deus


Sobre o autor: Edilson Valiante nasceu em São Paulo. Formou-se em Teologia em 1979. Por mais de 20 anos serviu como professor da Faculdade Adventista de Teologia. Foi distrital, departamental de Educação e JA. Atualmente é o Secretário Ministerial da União Central Brasileira. Casado com a professora Nely Doll Valiante, possuem um casal de filhos: Luciene e Eduardo.

  1. Introdução
    1. Um dos elementos fundamentais da natureza distinta de Deus, como revelado na Bíblia, é Sua santidade.
    2. A palavra santidade também é usada para caracterizar a resposta à graça divina que deve fazer parte do povo de Deus quando ele se permite ser transformado à Sua semelhança.
    3. No Antigo Testamento, a expressão qados, “santo” e qodes, “santidade” aparecem mais de 830 vezes. Já no grego do Novo Testamento, a palavra hagios, “santo”, seus derivados e cognatos ocorrem mais de 260 vezes.

  1. Conceito de santidade no Antigo Testamento
    1. Embora não seja comum prestarmos atenção ao tema da santidade, sem nenhum exagero, esse é o elemento que transpassa todos os outros no que se refere à descrição veterotestamentária do caráter de Deus (Sl 99:3, 5, 9). No Novo Testamento, essa característica não é tão evidente, mesmo porque se entende que o Antigo Testamento é base e fonte de todas as suas pressuposições teológicas.
    2. A primeira ocorrência do termo santidade que aparece na Bíblia refere-se ao sábado. A declaração divina transformou um dia normal de 24 horas em um dia especial, distinto, único. Se Deus determinou o sábado como santo, o que o ser humano poderá fazer para destituí-lo dessa santidade?
    3. A santidade de Deus:
      1. A ideia básica que se destaca na santidade de Deus é a de Sua unicidade e distinção, Sua qualidade em ser único, Sua diferenciação de tudo o mais que existe; Aquele que não pode ser confundido com nenhuma outra coisa, principalmente com os falsos deuses (Êx 15:11). A santidade de Deus revela Sua distinção de tudo o que foi criado. Assim, a santidade reflete em altíssimo grau a distinção absoluta que existe entre criatura e Criador.
      2. Como decorrência dessa unicidade se estabelece o conceito de santidade que nos é mais comum: a perfeição moral divina. Deus possui a total liberdade em não poder ser acusado de imperfeição (Sl 89:35). Mais que isso: diante de Sua presença, tudo o mais que não é perfeito demonstra seu estado de imperfeição. Um exemplo clássico é o segundo chamado de Isaías ao ofício profético, descrito no capítulo 6. Diante do coro angelical exaltando a santidade de Deus, o ser humano se mostrou extremamente frágil e pecador a ponto de antever a morte. Foi a santidade de Deus que trouxe ao coração de Isaías a certeza de sua pecaminosidade (6:5).
        1. O canto reverente dos serafins indica também que, mesmo que eles não possuíssem nenhum traço de pecado, a perfeição deles estava aquém e era dependente da perfeição de Deus. O Criador e Senhor de tudo é, em essência, santo, e essa santidade O distingue de qualquer outro ser.
        2. Isaías 6 expõe outro conceito sobre a santidade de Deus – a glória de Sua presença. Assim, glória e santidade são ideias complementares quando se descreve a natureza de Deus.
        3. A proclamação tripla da santidade de Deus (“santo, santo, santo”) é conhecida teologicamente por trisagion. Essa fórmula é única no Antigo Testamento (aparece novamente no Apocalipse). Nenhum outro atributo da natureza de Deus é assim descrito.
          1. Alguns comentários indicam que essa era a forma da língua hebraica para estabelecer o superlativo, mas esse argumento se decompõe por sua característica única.
          2. Outros estudiosos da Bíblia entendem que essa tripla repetição indica uma fórmula pré-trinitariana.
          3. L. Farnell em sua obra Attributes of God nota que “qualquer que seja a crença teísta adotada, santidade faz parte da essência da ideia” (p. 186).
        4. Quando Isaías contemplou a santidade de Deus, reconheceu seu estado e foi justificado pela fé, seu senso de missão se tornou claro. Podemos concluir que é a santidade de Deus que nos impulsiona para a proclamação do evangelho. Será que, sem o senso dessa santidade, poderemos realmente testemunhar?
        5. Conforme citado no texto da lição, outros exemplos de reconhecimento da santidade de Deus são: Jó, Jacó, Ezequiel e Daniel.
        6. “Sempre que um ser humano encontra o Deus vivo, há o espanto inicial de finalmente ver a verdadeira profundidade do seu próprio pecado” (texto da lição – quarta-feira). Os povos antigos evidenciavam essa reação pelo ato de rasgar as vestes e se cobrir com trapos, pó e cinza.
      3. A santidade de Deus está refletida em Sua demanda por adoração exclusiva. Essa exigência é muito bem estabelecida nos primeiros dois mandamentos. Em outras palavras, quando adoramos, devemos ter em mente a santidade de Deus. Culto não é um programa onde buscamos entretenimento... Se fizéssemos uma reflexão mais cuidadosa da santidade de Deus, nossa adoração certamente seria muito mais cuidadosa.
        1. Santidade não faz parte da natureza de nenhuma outra deidade em qualquer outra religião, antiga ou moderna. Por isso, cultos a outras divindades sempre estão ligados ao prazer, à autossatisfação e à sensualidade.
        2. Assim, santidade é sempre exigida na adoração do verdadeiro Deus. Não podemos adorar a Deus de qualquer maneira, trazendo diante dEle qualquer coisa (música, mente, etc.).
      4. Há uma conexão íntima entre a santidade de Deus e Sua justiça. A santidade de Deus não é inócua, inconsequente ou simplesmente um conceito etéreo. A santidade de Deus é proativa e assegura o direito que tem de monitorar a conduta do Seu povo. No Antigo Testamento, Deus estava sempre indicando a incompatibilidade do comportamento de Israel diante de Seu caráter. Um exemplo desse aspecto é encontrado em Amós 2:7. Quando pai e filho possuem a mesma mulher, a santidade de Deus é violada. Por causa da desobediência, a ira de Deus entra em ação. Quando Seu povo só é santo na aparência ou no nome, mas não de fato, Deus não pode por Sua justiça deixar de expressar Seu desprazer em termos de julgamento (Os 13:4-14; Am 4:2; Ez 2:17-22). Essa foi a história de Israel. Qual tem sido a nossa? Da mesma forma, a crueldade profana das outras nações ofendem a santidade e a justiça de Deus e, por isso, recebem punição (Ez 38:17-23).
    4. A santidade almejada em Israel
      1. No Antigo Testamento, santidade não é inerente a Israel, mas uma qualidade cuja fonte se encontra no próprio Deus. Como em Deus, a santidade de Seu povo também se mostra dúplice. O primeiro aspecto é evidente em sua condição privilegiada de ser o povo escolhido, distinto, único, em contraste com as outras nações. Israel era a possessão exclusiva de Deus. Essa escolha não foi em virtude da proeminência de Israel, um povo ínfimo numericamente ao ser comparado com outros povos. Foi por eleição, pelo amor e propósito de Deus (Dt 7:7ss). O segundo aspecto foi exposto quando Israel foi movido a honrar Deus por meio de sua obediência e fidelidade ao concerto (Êx 19:5ss). Essa era santidade adquirida (Lv 11:44ss; Dt 28:9). Deveria ser a nação modelo, fonte de atração dos povos para o conhecimento do Deus verdadeiro. Infelizmente, a história deixou claro que Israel não honrou a santidade de Deus.
      2. O conceito de santidade permeava a vida de Israel. A terra era santa por ser um presente dado por promessa ao povo. Jerusalém era a cidade de Deus, onde se manifestava a Sua presença no santuário (etimologicamente “o lugar onde está a santidade”), mais particularmente, no lugar santíssimo do templo. Os serviços realizados no templo eram santos. A arca e todos os utensílios do templo eram santos.  Quando a arca foi tomada pelos filisteus, o entendimento era que a glória de Deus se havia apartado (1Sm 4:22). Os levitas deveriam ser santos e purificar-se. O Dia da Expiação era santo. Até as guerras contra as nações pagãs eram consideradas santas, pois eram agentes do Santo para trazer juízo. O sábado era santo. O dízimo era santo. O problema é que Israel reduziu a mero cerimonialismo a santidade de Deus.
  1. A santidade no ovo Testamento
    1. Como era de se esperar, o Novo Testamento mantém o entendimento sobre santidade do Antigo Testamento. Por exemplo, lemos que Deus é santo (1Pe 1:15), dos santos anjos (Lc 9: 26), dos santos profetas (At 3:21), dos primogênitos que são santos (Lc 2:23), de um sacerdócio santo (1Pe 2:5), da nação santa (1Pe 2:9), da cidade santa (Mt 4:5), das Santas Escrituras (Rm 1:2), etc. O Novo Testamento faz alusões claras à santidade como estando em conformidade com a natureza de Deus em vez de um envolvimento meramente cerimonial.
    2. A santidade da divindade:
      1. O Pai é santo. Na oração sacerdotal, Jesus aludiu ao Seu Pai como santo (Jo 17:11). Ao ensinar os discípulos a orar, Jesus os instruiu para que reconhecessem o Pai como digno de ser aclamado com honra, como único – “santificado seja o Teu nome” (Mt 6:9). O vidente de Patmos registrou o louvor dos anjos ao Pai na mesma fórmula já descrita por Isaías – o trisagion (Ap 4:8). O apelo dos mártires por vindicação reconhece a santidade de Deus (Ap 6:10). O Cântico do Cordeiro cantado pelos que venceram a besta alude à exclusividade da santidade do Pai (Ap 15:4).
      2. O Filho é santo. A predição angélica de que Maria teria um Filho incluía a observação de que a “criança” seria reconhecida como santa (Lc 1:35). Até os demônios reconheceram Sua santidade (Mc 1:24 ou Lc 4:31-36). Depois de Sua ressurreição, os primeiros cristãos oravam fazendo referência à santidade de Jesus (At 4:27, 30 - ver também At 2:27; 13:35; Hb 7:26).
      3. O Espírito é santo. Embora o Antigo Testamento não deixe de se referir ao Espírito, Ele é habitualmente descrito como o “Espírito do Senhor”. Já no Novo Testamento, Espírito Santo é o nome mais comum atribuído à Terceira Pessoa da divindade. Nos Evangelhos sinóticos Ele é representado como repousando sobre Jesus e O fortalecendo no cumprimento de Sua missão (Lc 4:14, 18). Quando os escribas chegaram a atribuir as obras de Jesus a espíritos malignos, Jesus declarou que este seria um pecado imperdoável, isto é, blasfemar contra o Espírito Santo (Mc 3:22-30). No livro de Atos, o Espírito Santo assume a liderança da igreja por meio da iluminação, capacitação e direção dos servos de Cristo (1:8; 2:4; 5:32; 13:2; 16:6ss). É o Espírito o responsável por manter a igreja pura (At 5:1-11). Acima de tudo, no Novo Testamento o Espírito é o promotor da santidade (1Ts 4:7ss; 1Co 6:19).
    3. A santidade dos filhos de Deus: No Novo Testamento, os seguidores de Cristo são chamados a ser santos e a conduzir-se como santos.
      1. Chamados para a santidade. Tendo em vista o paralelismo óbvio entre o povo de Israel e a igreja do Novo Testamento, não é de se surpreender que os filhos de Deus sejam considerados santos em virtude de sua condição. Os cristãos são considerados santos em virtude do chamado que receberam.
        1. Parece contraditório que Paulo tivesse tratado os irmãos da igreja de Corinto como santos (1Co 1:2; 3:17), tendo em vista a longa lista de pecados que eles estavam praticando. Algumas traduções tentam suavizar essa aparente contradição colocando a santidade como algo a ser obtido no futuro (“chamados para ser santos”). Contudo, o que Paulo estava falando é que eles eram santos por ter sido chamados, refletindo assim sua posição em relação a Deus e não necessariamente sua condição. Os cristãos foram colocados à parte por Deus em Cristo.
        2. Em 1 Coríntios 6:11, os cristãos foram separados dos demais porque “foram lavados, foram santificados, foram justificados no nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito de nosso Deus.” Paulo não afirma que os cristãos se haviam tornado santos em caráter, mas que foram declarados como santos por ter sido chamados por Deus. Essa ideia é confirmada porque o termo “santificados” precede a palavra “justificados”. O cristão nunca será justo em si, mas é reconhecido ou declarado justo mesmo não sendo nem merecendo. Um paralelo pode ser tirado do próprio apostolado de Paulo. Ele não foi um apóstolo por ter sido reconhecido assim pela igreja, mas o era por ter sido declarado e chamado para ser um apóstolo.
        3. Com isso, não quero dizer que a condição de santidade não tenha nada a ver com o caráter e a conduta do cristão. O que está sendo afirmado é que a santidade é resultante de um chamado feito por Deus a todos os que aceitam Cristo como Senhor. Esse chamado motiva ou direciona o cristão a se entregar, sem reservas, ao poder do Espírito que atuará na transformação de sua vida, objetivando a santidade de caráter. Pedro deixa isso evidente: “Assim como é santo Aquele que os chamou, sejam santos vocês também em tudo o que fizerem, pois está escrito: ‘sejam santos, porque Eu sou santo’” (1Pe 1:15-16).
      2. Santos em caráter: Como observamos, é evidente que o chamado para ser santo também implica, consequentemente, uma mudança de vida, no moldar do caráter, o que pode ser chamado de processo de santificação.
        1. Embora cada crente deva estar envolvido na transformação de seu caráter, esse processo nada tem de meritório. O único fator a ser considerado é a decisão de colocar a vida, sem reservas, nas mãos do Deus santo..A salvação já é um dom concedido pela graça e não merece discussão. Contudo, desde que passo a ser filho de Deus, devo desejar reproduzir em mim os traços da família, que é a vontade de Deus.
        2. O ponto de partida para o desenvolvimento do caráter é a compreensão de que a graça recebida de Deus espera, clama por uma resposta. Em Romanos 12:1, Paulo chama essa resposta como a entrega da vida, “sacrifício vivo, santo e agradável a Deus”. O verso 2 declara como esse processo toma lugar: a despeito de lutas e tentações vencidas, pela renovação da mente o cristão se permite ser transformado até “experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”.
        3. Quando contemplamos a glória (santidade de Deus), nossos pecados são revelados, deles nos arrependemos e os abandonamos. E, assim, “segundo a sua imagem estamos sendo transformados com glória cada vez maior, a qual vem do Senhor que é Espírito” (2Co 3:18).
        4. Devemos observar que nessa transformação, o Espírito Santo é o grande agente capacitador, mas não o padrão a ser seguido. Este é Jesus Cristo. É Cristo que deve ser formado em nós (Gl 4:19). As igrejas pentecostais erroneamente têm colocado sobre o “Espírito” a essência da experiência cristã.
        5. Arrependimento, oração e leitura da Palavra são indispensáveis nesse processo de crescimento espiritual, de santificação.
        6. O programa de reavivamento e reforma focaliza de forma correta a transformação de caráter que cada crente que aguarda a vinda de Jesus deve experimentar.
    4. Podemos, contudo, destacar três possíveis desvios no processo de santificação.
      1. O primeiro deles é o antinomianismo (não há necessidade de guardar a lei). Assim pensam: desde que fui chamado para ser santo, já estou salvo. Não necessito, portanto, transformar minha vida à semelhança de Cristo. Ele já fez isso por mim na cruz para que eu viva uma vida de liberdade nEle. O antinomianismo é facilmente refutado porque é impossível imaginar que a vida cristã continue sendo uma vida de pecado (Rm 6:1-6). Entretanto, a mornidão laodiceana leva muitos a viver esse erro na prática cristã.
      2. O segundo é o perfeccionismo. Essa tendência é oposta ao antinomianismo. Na busca de se tornarem semelhantes ao caráter de Cristo, as pessoas imaginam poder viver sem pecado. A vida de perfeição é sempre colocada na Bíblia como um alvo a ser atingido na glorificação. Embora Paulo pareça favorecer o perfeccionismo em 2 Coríntios 7:1, quando descreve sua própria experiência religiosa parece estar longe dessa proposta (Fp 3:12). Para Paulo, essa é uma experiência futura (1Co 13:10) que envolverá toda a comunidade cristã (Ef 4:13).
        1. O perfeccionismo sempre foi uma “tentação” para alguns adventistas ou por não entenderem o real significado do pecado ou pelo desejo desvairado de pertencer à “última geração”. É raro, mas temos lido e ouvido declarações que afirmam que a última geração dos adventistas viverá sem cometer pecados e, só então, Jesus voltará. A perfeição de caráter (ou perfeccionismo) da última geração é “a condição” para a segunda vinda de Cristo.
        2. Para uma breve discussão sobre o assunto, ver G. Knight, ed., Questões sobre Doutrina, CASA.
      3. A terceira dificuldade em entender o tema da santidade vem do movimento pentecostal. Santidade é identificada com a manifestação de sinais, milagres e maravilhas. O centro da experiência religiosa não é Cristo e a necessária transformação de caráter, mas a vivência de uma mística miraculosa, identificada erroneamente como pentecostal. Assim, a prática do dom de línguas e exorcismos passa a ser evidência de uma vida santificada, ou movida pelo Espírito.

  1. A santificação final
    1. Com a compreensão que temos do Grande Conflito, sabemos por experiência pessoal que a batalha entre a carne e o espírito é algo real e nos acompanhará até a segunda vinda de Jesus. Embora Cristo tenha trazido a libertação sobre o poder do pecado, a presença do pecado perdurará até o fim (1Ts 5:23). Nossos corpos ainda estão sob o efeito da doença, da decrepitude e da morte. Por que, então, nosso caráter estaria totalmente liberto do pecado? Perfeição é algo que nos será concedido no “dia do Senhor”, quando o que é corruptível será revestido de incorruptibilidade (1Co 15:53).
    2. Por outro lado, sabemos que é vital para o crente a experiência da transformação de caráter na santificação. Sem ela ninguém verá o Senhor (Hb 12:14).
    3. “Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser, mas sabemos que, quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a Ele, pois O veremos como Ele é. Todo aquele que nEle tem esperança purifica-se a si mesmo, assim como Ele é puro” (1Jo 3:2-3).

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Comentário da Lição 04




Lição 4 - O Deus da graça e do juízo


Autor do comentário: Edilson Valiante



Introdução
     
    Por natureza, possuímos muitas dificuldades para compreender a justiça divina e Deus como um Ser extremamente justo, em virtude de utilizarmos a justiça humana como paradigma.
     
    Há justiça do ponto de vista do ser humano? Aqui no Brasil temos até o Ministério da Justiça. Fala-se muito em nossos dias sobre a idoneidade de juízes que não desejam que seus atos sejam auditados. O tema recorrente na boca de políticos é a justiça social. Isso tudo é justiça?

    A justiça humana está baseada em leis. Sabemos que as leis, na maioria das vezes, são feitas para preservar os direitos da classe dominante. Nossas leis são falhas porque procedem da vontade humana e a vontade humana é falha. Sempre se ouve que “a justiça é só para os pobres!”

    No sentido estrito da palavra, não temos justiça. O que temos é direito. Os juízes realmente não fazem justiça. O que fazem é julgar diante do direito, isto é, das leis estabelecidas. As sentenças promulgadas pela justiça humana têm por base as leis... e essas são defeituosas por natureza, quando não são “viciadas”.

    Além do mais, normalmente nos consideramos pessoas justas. Por que teremos que enfrentar a justiça divina se somos bons por natureza?

    Outra grande limitação para o entendimento da justiça divina é a caricatura construída pela tradição cristã do inferno e a doutrina da imortalidade da alma.
     
    Deus seria justo ao punir alguém por toda a eternidade, num tormento infindável de tortura e fogo?

    Qual seria o ponto de atração e convergência: o amor divino ou o pavor do inferno?

    Considere o exemplo de Jonathan Edwards (1703-1758). Ele foi um dos mais importantes teólogos norte-americanos no período colonial inglês. Foi um dos mais destacados pregadores no grande avivamento do século 18 e presidente da Universidade de Princeton. A despeito de ter identificado as características do verdadeiro discipulado cristão, ele é mais conhecido por um sermão que costumava pregar, cujo título era: “Pecadores nas mãos de um Deus irado”. Conta-se que, quando Edwards “pintava” as cenas terríveis do inferno, as pessoas chegavam a se contorcer de dor. No momento do apelo, por temor do juízo divino, as pessoas aceitavam a Cristo como Salvador. Seria essa a forma correta de apresentar o juízo?

    Como limitação à visão da justiça divina, ainda podemos acrescentar a falsa percepção da ira de Deus. Há relação entre a justiça de Deus e a Sua ira?
     
    Precisamos distinguir a ira humana da divina. Nossa ira é decorrente de um estado emocional alterado enquanto a ira divina é a reação consciente da pureza e santidade de Deus.

    A ira divina não é um ato de explosão sentimental, mas o resultado da perfeição de Seu caráter que não pode se coadunar como o pecado. Em outras palavras, a ira divina está em contraste direto com a presença do pecado.

    A Teologia do Grande Conflito nos leva à compreensão mais clara do caráter santo de Deus e Sua reação “natural” ao pecado. Como poderíamos entender a existência de um Deus justo diante deste mundo injusto? Essa relação é estudada pelo ramo da teologia chamada Teodiceia. Na Bíblia, não existe dicotomia entre amor e justiça.

    Juiz, juízo e julgamento na Bíblia
     
    Como o texto da lição deixou evidente, os temas de juízo (julgamento) e graça (salvação) estão sempre entrelaçados e aparecem do Gênesis ao Apocalipse. Estão interligados porque ambos fazem parte do caráter de Deus: Ele é todo-misericordioso, isto é, Deus é essencialmente amoroso e justo.            A revelação de um Deus de graça e juízo é mais evidente no contexto do pecado. Se o pecado não existisse, teríamos a revelação do caráter todo-misericordioso de Deus? Claro que sim, pois a criação foi um ato de graça. Contudo, criação e redenção estabelecem definitivamente o binômio graça e juízo.
     
    Como consequência, perdão (justificação e libertação) e condenação (castigo e punição) são os resultados decorrentes dessa misericórdia plena.

    Assim, juízo e julgamento não são intrinsecamente negativos, como no caso da justiça humana. Só comparece diante do juiz aquele que foi indiciado ou está passível de ser condenado.

    No Antigo Testamento, a palavra hebraica para juiz é sopet, e tem origem semântica naquele que pronuncia um oráculo ou que fala em lugar de Deus (Êx 18:13, 15, 16). Com o passar do tempo, a expressão passou a ter um significado mais amplo, como aquele que é apontado para decidir (determinar o veredito em favor ou contra) ou quando algum conselho é necessário.
     
    Êxodo 23:6, 7 e Deuteronômio 16:19 deixam evidentes as responsabilidades dos anciãos escolhidos para julgar. As decisões deveriam ser imparciais, sem nenhuma forma de preconceito e sem a influência da opinião popular. No período dos juízes, a justiça era administrada por aquele em quem o povo manifestava confiança. O profeta Samuel chegou a organizar uma corte com o propósito de julgar (1Sm 7:16). Com o surgimento do Reino de Israel, uma das funções do rei era julgar (1Sm 8:20; 2Sm 15:1-6).

    O juiz também recebe a conotação daquele que liberta, que salva (Jz 3:9; Is 19:20).

    Além de desenvolver aspectos históricos da justiça humana, o Antigo Testamento estabelece nitidamente Deus como Juiz e como
    Aquele que estabelece justiça (juízo). Justiça é um atributo divino (Dt 1:17; Sl 119:149).
     
    Nações pagãs e o próprio Israel sofrem os juízos divinos (Ez 25:11; 5:10-15).

    Indivíduos também recebem o juízo de Deus. Exemplos clássicos são os de Nadabe, Abiú e Uzá.

    No Novo Testamento, a ideia de julgamento normalmente ocorre sob uma perspectiva ética. As expressões gregas mais comuns são as derivadas do verbo krino, “julgar”, “ser levado ao tribunal”. Esse verbo é usado tanto no sentido do juízo humano (Lc 19:22) como no divino (Jo 5:30, 1Co 5:13, Ap 6:10).
     
    A palavra krisis é normalmente traduzida como juízo, castigo, condenação.
    A expressão krima, “decisão” ou “sentença”, pode aparecer no sentido positivo (como em Ap 18:20) ou é mais comum no sentido negativo (2Pe 2:3).

    O termo krites é traduzido como “juiz”, tanto para os seres humano (At 24:10) como para Deus/Cristo (Hb 12:23; Tig 4:12).
     
    Justiça e Graça: dons inseparáveis
     
    Desde o pecado de Adão e Eva, julgamento e salvação fazem parte do plano da graça divina. A descrição de Gênesis 3:9-19 é, evidentemente, uma cena de tribunal onde há o julgamento dos protagonistas no drama do pecado diante do Criador e Juiz.
     
    Nesse julgamento são declaradas condenações aos seres humanos, à Terra, à serpente e a Satanás. Muitas dessas condenações não são apenas punições, mas há tanto um caráter corretivo (restaurar as relações que foram rompidas pelo pecado) como restritivo (proteção contra o crescimento do pecado), evidenciando que junto à condenação há também graça, salvação.

    Gênesis 3:15, como o protoevangelho, expõe de forma absoluta a conexão entre justiça e graça.
     
    A salvação é um ato sobrenatural de Deus. “Quando Satanás ouviu que existiria inimizade entre ele e a mulher, e entre sua semente e a semente dela, entendeu que sua obra de degenerar a natureza humana seria interrompida; que por algum meio o homem se habilitaria a resistir a seu poder” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 66). Essa é a “graça preveniente” (“que vem antes”) e que está à disposição de todo ser humano.

    Há sempre um preço para a justiça! Há sempre um preço pago para que haja graça! Todos (Adão, Eva e Satanás) entenderam que o preço exigido pela justiça de Deus recairia sobre o próprio Deus. O plano da salvação faria com que Deus Se despojasse de Sua posição, tornando-Se ser humano, e indo até à morte de cruz (Fp 2:5-11).

    Na experiência do Dilúvio, percebe-se que a maldade havia se multiplicado e que a violência e corrupção tornaram-se generalizadas. Deus enviou um juízo sem precedentes para demonstrar paradigmaticamente o desfecho do juízo final (a destruição diluviana é um tipo da destruição final – o Dia do Juízo). Contudo, antes de executar o juízo, Deus concedeu um tempo de graça que durou 120 anos.

    Estabeleceu-se aqui um padrão que poderá ser notado em todo contexto bíblico: há o pecado, então, o anúncio de juízo, a graça salvadora e, finalmente, o juízo (castigo ou salvação).
     
    O juízo diluviano tem natureza retributiva – o castigo merecido pelo pecado.

    O juízo diluviano tem caráter restritivo – o pecado deve ser mantido sob controle.

    O juízo diluviano revela a misericórdia ao salvar os que se arrependem. Há um meio de escape para o fiel: a graça presente na arca.

    Esse escape nunca se dá por merecimento nem por obras da lei. A graça sempre é imerecida e mediada pela fé – Efésios 2:8 deixa isso claro. Perdão ou justificação só advém por meio do compromisso de fé (pacto, concerto) entre o ser humano e Deus.

    Sacrifícios e o Santuário. Os sacrifícios patriarcais e todo o sistema levítico tinham como finalidade demonstrar essa relação sinergética entre juízo e graça, entre condenação e perdão.
     
    O pecador arrependido, mesmo longe de Jerusalém, obtinha perdão ao aceitar, pela fé, o sacrifício contínuo realizado no templo.

    O arrependido recebia perdão ao levar para o templo uma ovelha e confessar sobre sua cabeça os pecados, pelo menos uma vez ao ano. Quando o sangue do animal era apresentado no interior do santuário, granjeava novamente perdão ao crente.

    Durante todo o ano, a ideia de que pecado exige juízo e que a graça oferece perdão estava presente em todos os sacrifícios.
    Contudo, uma vez ao ano havia o dia do juízo por excelência – o Dia da Expiação (Lv 23:29). Todos os detalhes do Dia da Expiação apontavam para a realidade do juízo final.

    O evangelho e o estabelecimento do Reino de Deus pregado por Jesus também expõem a conexão entre juízo e graça.
     
    Muitas das parábolas de Jesus deixam isso evidente: A parábola da rede (Mt 13:47-50); a parábola do trigo e do joio (Mt 13:24-30); a parábola das vestes nupciais (Mt 22:1-14); a parábola das virgens (Mt 25:1-13) e a parábola dos cabritos e das ovelhas (Mt 22:31-46).
    Jesus deixa inequívoca a relação entre graça e juízo presente no evangelho.
     

    O juiz é o próprio Cristo, pois o Pai Lhe concedeu esse direito (Jo 5:22). Em outras palavras, o juízo é uma ação trinitariana.
     
    Atos 10:42 afirma que temos que testemunhar e pregar que Deus constituiu Cristo como Juiz dos vivos e dos mortos.

    Quando criticamos alguém, pecamos e nos colocamos no lugar de Jesus ao declaramos juízo. E Cristo foi feito nosso juiz. O Pai não é o juiz. Tampouco, os anjos. Aquele que Se revestiu da humanidade e viveu vida perfeita neste mundo, será quem nos há de julgar. Só Ele pode ser nosso Juiz. Vocês se lembrarão disto, irmãos? Pastores, vocês se lembrarão disto? E vocês, pais e mães, também se lembrarão disto? Cristo assumiu a humanidade para poder ser nosso Juiz. Nenhum de nós foi designado para julgar a outrem. Tudo o que podemos fazer é corrigir-nos a nós mesmos. Exorto vocês, em nome de Cristo, a obedecer à ordem que nos dá, de nunca assumir a atitude de juízes. Dia a dia me tem soado aos ouvidos esta mensagem: ‘Desçam do assento de juiz! Desçam com humildade!’” (Ellen G. White,Testemunhos Seletos, v. 3, p. 383).

    O critério do juízo é a aceitação de Cristo pela fé. O julgamento é esse: Quem crer em Jesus não é condenado e quem não crer já está condenado (Jo 3:18-19).

    Jesus é o Juiz, é o critério do juízo e é também nosso advogado, o Justo (1Jo 2:1).

    Como poderá alguém se perder, ou deixar de receber o perdão diante de tanta graça?

    A cruz é o ápice da demonstração de um Deus que é totalmente justiça e totalmente graça (ver comentário da lição anterior). “O amor de Deus tem-se expressado tanto em Sua justiça como em Sua misericórdia. A justiça é o fundamento de Seu trono, e o fruto de Seu amor. Era o desígnio de Satanás divorciar a misericórdia da verdade e da justiça. Buscou provar que a justiça da lei divina é um inimigo da paz. Mas Cristo mostrou que, no plano divino, elas estão indissoluvelmente unidas; uma não pode existir sem a outra. ‘A misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram.’ Por Sua vida e morte, Cristo provou que a justiça divina não destrói a misericórdia, mas que o pecado pode ser perdoado e que a lei é justa, sendo perfeitamente possível prestar-lhe obediência. As acusações de Satanás foram refutadas. Deus dera ao homem inequívoca prova de amor” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 733).

    A doutrina da justificação determina o caráter do cristianismo como a religião de justiça e de graça. Ela define a significância de Cristo em Sua encarnação, ministério, morte, ressurreição, ministração no santuário e advento.
     
    Paulo é o grande articulador dessa verdade, especialmente nas cartas aos Romanos e aos Gálatas.

    A justiça de Deus exige condenação e punição pelo pecado, mas a graça está pronta a aceitar o pecador e conceder-lhe perdão.
    Pela fé na provisão de Deus para o pecador, o ser humano é declarado justo. Ele nunca é justo em essência, mas é considerado como sendo justo. O termo teológico é justificação ou perdão.

    A justificação pela fé em Cristo não apenas é uma declaração de que o pecador passa a ser considerado justo, mas é a concessão de poder para que este viva uma vida de justo. Justificação é mais que um ato forense: é perdão e promoção (1Jo 1:9). É livramento do pecado e do poder do pecado. Assim, justificação não é apenas justiça imputada, mas também é justiça comunicada. “O perdão de Deus não é meramente um ato judicial pelo qual Ele nos livra da condenação. É não somente perdão pelo pecado, mas livramento do pecado.

    É o transbordamento de amor redentor que transforma o coração” (Ellen G. White, O Maior Discurso de Cristo, p. 114).

    O juízo final é uma verdade já estabelecida pelo Antigo Testamento (Jl 1:15, Is 2:6-22; Is 1:24-27; Dn 12:1-3). Contudo, o Novo Testamento estabelece o contexto do juízo final.
     
    Todos comparecerão perante o tribunal de Deus (2Co 5:10).

    Estamos vivendo no tempo do fim desde a morte, ressurreição e ascensão de Jesus (At 2:17).

    Há uma hora definida por Deus para a execução do juízo (Mt 24:36; At 17:37-51; 24:25; Ap 14:6-7).

    O juízo é o “dia” escatológico – o Dia do Senhor (2Pe 3:9-13; 2Ts 2:1-12).

    O juízo final se constitui em três fases:
     
    Juízo pré-advento (investigativo ou vindicativo). Como o nome já determina, é o juízo que ocorre antes da volta de Jesus. Os livros de
    Daniel e Apocalipse descrevem com clareza aspectos dessa fase (ver Nisto Cremos).
     
    De acordo com Daniel, ele teria início 2.300 anos após a ordem para reconstruir Jerusalém, isto é, 22 de outubro de 1844 (após os 1.260 anos de supremacia da ponta pequena). Assim, de acordo com Apocalipse 14:7, estamos vivendo no tempo desse juízo e ainda sob o tempo de graça. Por isso o evangelho eterno deve ser anunciado.

    O aspecto primordial desse juízo não está na condenação, mas na vindicação do caráter dos justos, isto é, os que viveram pela fé (Dn 7:21-22). De acordo com 1 Pedro 4:17, o juízo se inicia pela casa de Deus, pelos filhos de Deus. “O justo vive pela fé” (Rm 1:17). É desse juízo que Jesus fala a Nicodemos em João 3. Em Daniel 7:22, eles são chamados de “santos do Altíssimo”, os que têm os nomes escritos no Livro da Vida.

    Como consequência óbvia de um juízo para salvação, os que não estão sob o critério da fé estão condenados. Isso inclui pessoas e instituições. Enquanto a Igreja Remanescente é salva, a Ponta Pequena é condenada.

    Há extrema conexão entre o juízo e o ministério intercessor de Cristo no santuário celestial. Em 22 de outubro de 1844, Jesus passou do lugar Santo para o Santíssimo (lugar para juízo por excelência).

    O fim desse juízo se dará quando Jesus declarar “Está feito!” É o fim do tempo de graça. Após esse evento, a vinda de Cristo e a ressurreição serão iminentes.

    Juízo milenial pós-advento:
     
    Esse juízo se dará durante o milênio quando o restante da humanidade será julgado – os ímpios.
    O critério do julgamento não é mais pela fé, mas por aquilo que fizeram ou deixaram de fazer. Assim, esse juízo tem por base a lei e as obras (Rm 2:12-16; Ap 20:13).

    O propósito desse juízo é confirmar o merecido castigo que cada um receberá. Contudo, há também o propósito cósmico, pelo qual os “santos do Altíssimo” confirmarão as decisões de Deus e verificarão porque os nomes dos ímpios não foram colocados no Livro da Vida (Ap 20:11-15).

    O caráter de Deus será vindicado quando se verificar que os salvos e perdidos assim o foram como resultado de Seu amor, justiça e retidão.

    Juízo executivo:
     
    Essa é a fase final e universal do juízo. Aqui não são apenas os ímpios finalmente eliminados, mas também Satanás e seus anjos. É a erradicação final do pecado no “lago de fogo e enxofre” (Ap 20:10).

    O juízo executivo ocorrerá depois de se completarem os mil anos de Apocalipse 20.

    Crenças fundamentais:
     
    Crença fundamental nº 10: “Em Seu infinito amor e misericórdia, Deus fez com que Cristo, que não conheceu pecado, Se tornasse pecado por nós, para que nEle fôssemos feitos justiça de Deus...”

    Crença fundamental nº 24: “... Em 1844, no fim do período profético dos 2.300 dias, Ele [Cristo] iniciou a segunda e última etapa de Seu ministério expiatório. É uma obra de juízo investigativo, a qual faz parte da eliminação final de todo pecado... O juízo investigativo revela aos seres celestiais quem dentre os mortos dorme em Cristo, sendo, portanto, nEle, considerado digno de ter parte na primeira ressurreição... Este julgamento vindica a justiça de Deus em salvar os que creem em Jesus...”

    Crença fundamental nº 27: “O milênio é o reinado de mil anos de Cristo com Seus santos no Céu, entre a primeira e a segunda ressurreições. Durante esse tempo, serão julgados os ímpios mortos...”

    Para Leitura Adicional:
    1. Nisto Cremos, CASA.
          1. Tratado de Teologia Adventista, CASA.
          2. Comentários de Ellen G. White sobre a Lição da Escola Sabatina dos Adultos, CASA.



      Sobre o autor: Nascido em São Paulo, o Pr. Edilson Valiante formou-se em Teologia em 1979. Por mais de 20 anos serviu como professor da Faculdade Adventista de Teologia. Foi distrital, departamental de Educação e JA. Atualmente é o Secretário Ministerial da União Central Brasileira. Casado com a professora Nely Doll Valiante, possuem um casal de filhos: Luciene e Eduardo.