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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Comentário da Lição 07




Lição 7 – Senhor do Sábado


Sobre o autor: Edilson Valiante nasceu em São Paulo. Formou-se em Teologia em 1979. Por mais de 20 anos serviu como professor da Faculdade Adventista de Teologia. Foi distrital, departamental de Educação e JA. Atualmente é o Secretário Ministerial da União Central Brasileira. Casado com a professora Nely Doll Valiante, tem dois filhos: Luciene e Eduardo.

Introdução
A raiz da palavra hebraica para sábado é shbth, com o significado básico de “cessar”. No Antigo Testamento encontramos a forma substantivada shabbath (ou shabbathon), traduzida em nossas Bíblias por “sábado”. A forma verbal é shabath, com a tradução de “descansar” ou até “guardar o sábado”.

No grego do Novo Testamento, a palavra “sábado” é a tradução do grego sabbaton (ou do plural sabbata). A influência do termo “sábado” no judaísmo do 1º século é tão significativa que a expressão sabbaton pode se referir também à semana como um todo (como em Lucas 18:12). Os dias da semana eram determinados pela mesma expressão acompanhada do numeral. Por exemplo, o domingo, primeiro dia da semana, é originalmente chamado do “primeiro depois do sábado” ou “o primeiro [dia] da semana” (ver Mt 28:1; Mc 16:2, 9; At 20:7).

O sábado no Antigo Testamento
A primeira referência ao sábado encontra-se em Gênesis 2:1-3. O verso 1 estabelece o fato de que a criação havia sido concluída. Embora o substantivo shabbath não ocorra nessa seção, o verbo shabath aparece três vezes e o pronome (“ele”) que se refere ao sábado é citado duas vezes.

Dia abençoado – O mesmo verbo usado em Gênesis 2:2 para a bênção divina sobre o sábado é usado no capítulo 1:22, 28, quando Deus abençoou os animais e toda a humanidade. Assim, essa bênção não se refere apenas a um sábado em especial, o primeiro, mas continua a irradiar o mesmo valor a todos os sábados que viessem a ocorrer na história. Por falar em história, como disse Philo de Alexandria, “o sábado é o aniversário do mundo”.

Dia santificado – O significado básico aqui é de um dia separado, reservado, diferente dos demais em sua natureza. O sábado é um dia como os outros no sentido temporal (24 horas), mas há um significado espiritual que o torna distinto dos demais. O tempo “reservado” caracteriza a perpetuidade da declaração divina. A santidade do sábado é confirmada por outras referências bíblicas, mas fora do Pentateuco.

Se Deus tivesse escolhido um lugar como memorial de Sua criação, certamente nem todos os seres humanos poderiam usufruir da bênção. Uns estariam próximos, mas a grande maioria não poderia, pela distância, receber as bênçãos.

Se Deus tivesse escolhido um objeto como representação de Seu poder criativo, esse se tornaria numa relíquia, ou algo que seria venerado como o próprio Deus.

Deus definiu como o selo de Sua criação uma parte do tempo. Não há nada mais universal que o tempo... Ele é igual para ricos e pobres, moradores em qualquer parte do mundo e em qualquer época da história. Em outras palavras, o sábado é acessível a toda a humanidade. Ele é concedido em toda parte com a mesma regularidade e a mesma quantidade. Assim, ele tem um caráter universal, imparcial e, especialmente, gratuito. Tecnicamente falando, o tempo não pode, em si, ser venerado. Como o tempo não é um fim em si mesmo, o sábado representa uma bênção interior, uma experiência pessoal e relacional com o criador. Esse relacionamento com Deus se torna o aspecto essencial do sábado.

Dia de descanso – Esse descanso sabático demonstra que a criação estava completa. Tanto Deus como o ser humano pararam para celebrar a criação. Portanto, o sábado é o presente que Deus nos dá de Si mesmo. As bênçãos do sábado se tornam evidentes quando o ser humano encontra o verdadeiro descanso na amizade e companheirismo com Deus. O sábado é como se um súdito fosse convidado a passar um dia na presença do grande Rei.

Memorial da criação – Hans Walter Wolff afirmou que “quando o ser humano não é capaz de entender Deus como Criador, sua existência fica desprovida de significado”. Quando deixamos de reverenciar o sábado, encobrimos o poder criativo de Deus e perdemos o real sentido da vida. Ainda mais, perdemos de vista o sentido pleno da cruz. Ellen G. White expôs: “A mão que sustém os mundos no espaço, a mão que conserva em seu ordenado arranjo e incansável atividade todas as coisas através do Universo de Deus, é a que na cruz foi pregada por nós” (Educação, p. 132).

O sábado é e não é um dia como outro qualquer. Como vimos, é um dia como outro na sua extensão. Mas se o ciclo semanal for associado ao sábado, esse se torna único. Não existe no Universo um ciclo natural, não há um fenômeno na natureza que determine o estabelecimento da semana. Os sete dias da semana formam um pacote de relações espirituais, físicas e psíquicas únicas. Em seis dias trabalhamos e no sétimo dia descansamos. Há aqui uma arbitrariedade divina: é o sétimo dia, o sábado, e não outro dia da semana. Se Deus é soberano na definição do tempo e o tempo tem relação com cada ser humano, o sábado é para toda a humanidade e não apenas para alguns.

O livro de Êxodo é o que mais trata do sábado em sua santidade, bênção e descanso. A experiência de libertação e o significado do Êxodo estão presentes em toda a Bíblia. Muito do conteúdo dos profetas, tanto no Antigo como no Novo Testamento, são repercussões do contexto de libertação experimentado no êxodo por Israel.

Contexto de Êxodo 5 – Moisés e Arão se dirigiram ao Faraó rogando para que o povo fosse liberado para um encontro com o Senhor no deserto. Havia um profundo caráter espiritual nesse pedido feito ao “rei do Egito”. A resposta do Faraó no verso 5 contém uma terminologia sabática evidente: “o povo da terra já é muito, e vós o distraís [shabath, “fazer repousar”] das suas tarefas”.

Êxodo 16 – o relato da concessão do maná a Israel no deserto de Sim, duas semanas antes de o povo chegar ao Sinai, dá evidências claras da santidade do sábado e sua aplicação anterior ao Decálogo.

Êxodo 20:8-11 – A linguagem empregada no 4º mandamento resume o contexto de Gênesis 2:2-3. Assim, o sábado da criação passa a ser o sábado da lei e do concerto (da aliança).

Não é só em Deuteronômio 5 que a ideia do concerto está relacionada ao sábado e à redenção (libertação). No preâmbulo do Decálogo, Deus Se apresenta como Aquele que redime e liberta (20:2). No Sinai, o sábado e o conceito da aliança divina se tornam semelhantes, pois o primeiro é a demonstração exterior da segunda. Assim, no sábado o Criador deve ser entendido como sendo também o Redentor (Libertador).

O 4º mandamento é o único que possui as marcas que definem o selo (sinal) do concerto: nome, cargo e domínio. Esse aspecto do mandamento estabelece um vínculo escatológico aludido claramente na primeira mensagem angélica (Ap 14:7). O sábado foi, é e será o sinal do povo de Deus tanto na antiga como na nova aliança.

O imperativo “lembra-te” expõe o fato de que a instituição do sábado não foi estabelecida no Sinai. Por outro lado, ela revela uma dimensão futura no sentido de que o sábado poderia ser esquecido e que sua observância sempre será o tema central da experiência dos que estabelecem uma aliança com Deus.

Outras referências ao sábado no livro de Êxodo: 23:12; 31:13-17 (aliança perpétua); 34:21; 35:2-3.

O Quarto Mandamento em Deuteronômio 5:12-15. Aqui, em vez de o mandamento aludir à criação, ele revela outra justificativa para a guarda do sábado: a libertação de Israel do Egito.

Poderia haver alguma dificuldade quanto à “antiguidade” e a aplicação universal do preceito sabático caso não houvesse o claro mandamento de Êxodo 20. Temos que compreender:

A estrutura sintática do texto de Deuteronômio é uma evidente paráfrase do 4º mandamento feita por Moisés, como registrado anteriormente em Êxodo.

O caráter do livro de Deuteronômio em si nos ajuda no fato de ser uma repetição das leis com ênfase particular nas experiências do deserto.

O motivo da libertação é uma característica não apenas do 4º mandamento, mas de toda a lei, como em Êxodo 20:2 e Deuteronômio 5:6.

Temos que destacar o aspecto redentivo presente no 4º mandamento de Deuteronômio. O Deus que entra em aliança com Seu povo não é apenas o Criador; Ele é também o Libertador, o Redentor. Assim, o sábado não é apenas um memorial da criação, mas, depois do pecado, passou a ser um memorial da redenção que há em Cristo.

A atividade criadora e redentora de Deus, revelada em Cristo, é marcante no Novo Testamento, a ponto de a redenção ser chamada de “nova criação” (2Co 5:17; ver Hb 1:1-3 e Cl 1:16-17). O conceito da graça e do perdão (justificação) é dependente e envolve a ideia de Deus como criador.  Em suma, os atos redentivos implicam e pressupõem os atos criativos. A redenção inexoravelmente aponta para a criação. Não poderia, assim, existir um Redentor que não fosse o próprio Criador.

A salvação (graça) é concedida à parte de qualquer coisa que o ser humano fizer. Ela é totalmente divina. Da mesma forma, Adão e Eva descansaram no primeiro sábado não porque tivessem feito algo, mas como resultado daquilo que Deus havia feito por e para eles. Ambos receberam as bênçãos do sábado de mãos vazias, sem nenhum mérito.

No sábado deixamos de lado nossas obras e somos convidados a apreciar as obras de Deus, tanto as criativas como as redentivas.

O sábado traz sempre à mente a íntima conexão que deve existir entre justificação e santificação.

O sábado mostra que Deus sempre toma a iniciativa. Primeiro Ele cria, concede, liberta, provê, abençoa, santifica. Depois nos chama para estabelecer um concerto com Ele. Foi assim com Israel. Primeiro os israelitas foram libertos da escravidão, restaurados como filhos e, depois, chamados à aliança do Sinai. O sábado é o sinal dessa aliança: o Libertador e Criador nos pede a resposta obediente. Primeiro ele nos justifica, depois nos concede as condições para sermos obedientes. Assim, no sábado, do ponto de vista existencial, primeiro encontramos o Deus Redentor e, depois, o Deus Criador. Define-se aqui uma via de mão dupla na qual uma verdade se mistura à outra: se reconhecemos em Deus o Redentor, vamos aceitá-Lo como Criador, e se O aceitarmos como Criador, O reconheceremos como Redentor. O sábado é um sinal de criação e redenção!

Como afirmou Philo de Alexandria, o sábado nos lembra de que, se por acaso somos “servos” dentro de uma sociedade opressiva, devemos encontrar nesse dia o lampejo da libertação. É lamentável que os teólogos da libertação, tão concentrados no êxodo, não conseguiram captar que o sábado é um dia de esperança para o opresso. Sem o sábado, é muito fácil perdermos nosso senso de humanidade!

O sábado não é apenas um dia que evidencia nossa libertação e liberdade, mas um dia que nos leva a estender essa liberdade aos que estão em servidão (física e espiritual). Se o sábado nos remete à libertação, quando o celebramos a cada semana, deveríamos nos sentir motivados a testemunhar para os que ainda estão na escravidão do pecado. O sábado deveria nos estimular ao trabalho missionário e a ações sociais que aliviem a dor e o sofrimento (a preocupação social do sábado é o destaque de Isaías 58).

Foi numa sexta-feira que Deus concluiu a Sua criação e, no sábado, descansou. Foi numa sexta-feira que Deus, em Cristo, declarou: “está consumado”, o ato redentivo e, então, descansou. Assim, quando celebramos o sábado devemos nos alegrar não apenas pela criação natural, mas também pela criação espiritual que o sétimo dia provê.

O Prof. Sakae Kubo afirma que “a santidade do ser deve alinhar-se à santidade do tempo. Santidade do tempo deve se tornar santidadeno tempo”.

O sábado em Isaías – Entre os profetas de Israel, por três vezes Isaías se refere ao sábado de forma positiva:

O capítulo 56:2-8 é uma bênção aos que guardam o sábado.

No capítulo 58:13-14, bênçãos temporais e espirituais são novamente prometidas aos verdadeiros adoradores do sábado. Aqui o sábado é “o santo dia do Senhor” e “Meu santo dia”. Assim, valendo-nos do princípio sola scriptura, quando Apocalipse 1:10 fala que João foi tomado em visão no “dia do Senhor”, não poderia ser nenhum outro a não ser o dia de sábado. Esse é o dia do Senhor (ver Marcos 2:28). Há, contudo, em Isaías 58 outra expressão significativa quanto ao sábado que deve ser considerada: ele deve ser “deleitoso”.
Deve haver no ser humano um prazer espiritual ao deixar de fazer as coisas de seu próprio interesse no sábado e honrar a Deus num espírito de satisfação e alegria. Infelizmente, alguns “guardadores do sábado” não captaram o real sentido da adoração e gozo que acompanha a guarda desse dia de bênçãos. Quando o sábado é para mim um peso, estou demonstrando que ainda não compreendi o verdadeiro sentido da adoração sabática. De acordo com Ellen White, os pais devem ter um cuidado especial ao fazer do sábado um dia de alegria, diferente de todos os outros dias da semana, para seus filhos (ver Testemunhos Para a Igreja, v. 6, p. 369). O sábado é um dia para fazer o bem (Mc 3:4).

O sábado é uma promessa para o futuro, em Isaías 66:22-23. Na Nova Terra o sábado continuará sendo um dia de louvor e adoração.

O sábado no Novo Testamento
Nos evangelhos, a conduta de Jesus quanto ao sábado está em contraste com a dos fariseus e líderes judeus (tradição rabínica). Durante o período intertestamentário, os judeus desenvolveram uma teologia completamente fundamentada na guarda da lei. Só seria salvo aquele que cumprisse a lei, especialmente a lei oral que passou a ter caráter imperativo, mesmo diante das recomendações do Antigo Testamento. O legalismo judeu transformou o dia de sábado num emaranhado de obrigações que tornaram a alegria da adoração num verdadeiro fardo. Boa parte dos argumentos usados pelos fariseus para atacar o comportamento de Jesus em relação à guarda do sábado foi codificada no Mishnah, obra composta a partir das tradições orais, no 2º século d.C. Nesse livro, existe um capítulo especial sobre a guarda do sábado, “Shabbat”. Dezenas de “leis” submetiam os judeus a uma quase escravidão nesse dia. Os “nãos” quase que tornavam impossível a sobrevivência no sábado. Entretanto, esse mesmo livro apresentava as possibilidades de “contornar” as leis mais estritas. Dois exemplos apenas:

Era proibido andar mais que uma milha no sábado. Mas, se o judeu se alimentasse a cada milha, poderia andar quanto desejasse.

Era proibido carregar qualquer coisa no sábado (39 leis eram apenas em relação ao transporte aos sábados). Mas, se o judeu prendesse em sua roupa o que desejasse transportar, não mais haveria transgressão.

Jesus veio recuperar o verdadeiro sentido do sábado. Contudo, nos Seus embates contra os exageros farisaicos, alguns encontram razões para supor que Ele tivesse abolido o sábado (e a lei como um todo). De fato, Jesus teve uma percepção extremamente positiva quanto ao sétimo dia.

Jesus frequentava a sinagoga no dia de sábado “como era Seu costume” (Mc 1:21; 6:2; Lc 4:16, 31; 13:10).

Jesus fez o bem no dia de sábado, especialmente curas. É interessante notar que as primeiras curas que Jesus realizou no sábado não provocaram nenhuma reação negativa (exemplo: endemoninhado em Cafarnaum – Lc 4:31-37; sogra de Pedro – Mt 8:14-15; ver também Mt 8:16). Jesus ainda não havia desafiado a liderança espiritual judaica. O mais significativo nas curas que Jesus efetuava era o aspecto redentivo e não apenas a libertação física. No grego do Novo Testamento, curar e salvar são a mesma coisa, a mesma expressão é usada (sozo).

Há incidentes de curas no sábado que provocaram reações severas, incluindo ameaça de apedrejamento “de acordo com a lei [oral]” se houvessem duas testemunhas. Nos evangelhos sinóticos, Jesus Se confrontou com as “exigências” rabínicas em quatro ocasiões.

A primeira foi quando Seus discípulos colheram e debulharam espigas para comer, pois estavam com fome (Mt 12:1-8). Aqui supostamente eles estariam cometendo dois trabalhos proibidos no sábado: colher e debulhar. Nesse contexto, Jesus Se apresentou como Senhor do sábado. Ele demonstrou Sua autoridade como Criador e Redentor. Nesse contexto Jesus também definiu o sábado como existindo por causa do ser humano, e não o contrário. Assim, a necessidade de alimentação é extremamente superior às “fabulas” acrescentadas à guarda do sábado.

A segunda cura foi de um homem com a mão ressequida (Mt 12:9-13). As tradições indicavam que nenhum tipo de tratamento poderia ser oferecido aos sábados a um doente, exceto quando houvesse risco de morte. Como não era esse o caso, por se tratar-se de uma doença crônica, Jesus foi acusado de transgredir o sábado. Diante das acusações, Jesus respondeu à moda rabínica: com duas outras perguntas. Não somente a vida do ser humano é superior à vida de um animal quanto é lícito fazer o bem no sábado.

A terceira cura foi de uma mulher que havia dezoito anos sofria de uma enfermidade (Lc 13:10-17).

A quarta cura registrada nos sinóticos foi de um homem hidrópico (Lc 14:1-6).

Duas curas sabáticas feitas por Jesus aparecem apenas em João:

A cura do paralítico no tanque de Betesda (5:2-9), que suscitou grande escândalo entre os fariseus. Jesus não apenas curou no sábado, mas induziu o recém-curado ao “pecado grave” de transportar a própria cama. Novamente, Jesus demonstrou Sua autoridade ao Se igualar ao Pai.

Na cura do cego de nascença (9:16), Jesus foi novamente acusado e, mais uma vez, evocou Sua autoridade messiânica.

Por que Jesus curou aos sábados? Ele não poderia ter feito esses milagres em outro dia?

Por meio desses milagres Jesus Se posicionou contra as tradições orais dos líderes judeus, evocando o real sentido do sábado, como dia de gozo e de fazer o bem.

Ao realizar esses milagres, Jesus teve oportunidade para expor Sua missão messiânica e Sua autoridade como Criador e Redentor.

Jesus aludiu à santidade do sábado no Seu discurso escatológico de Mateus 24. A fuga dos cristãos de Jerusalém não deveria ser no rigoroso inverno nem no sábado (v. 20).

De significância para a compreensão do ato redentivo da cruz é o descanso de Jesus no túmulo no dia de sábado. E há, ainda, o mesmo respeito ao dia sagrado demonstrado pelos discípulos e pelas mulheres que repousaram “de acordo com o mandamento” (Lc 13:54-56).

Tanto no livro de Atos como nas epístolas, há evidências claras que indicam que os seguidores de Cristo continuaram guardando o sábado.

Era costume de Paulo frequentar a sinagoga no dia de sábado (At 13:14, 42-44, 17:2; 1Co 18:1-18).

Tanto Atos 20:7 como 1 Coríntios 16:2 não indicam nenhuma forma de adoração ou de mudança na guarda do sábado para o domingo.

Hebreus 3:7–4:13 trata da perpetuidade do 4º mandamento e da experiência que o verdadeiro cristão obtém quando compreende a teologia da graça. O repouso sabático deve ser experimentado pela pessoa justificada pela fé. Assim, sábado e justificação possuem uma íntima conexão.

Dimensão escatológica do sábado
Na história da Igreja Adventista, logo que José Bates teve contato com Frederico Wheeler, Tomas Preble e Raquel Preston sobre a verdade bíblica da lei e do 4º mandamento, ele percebeu a significância que o sábado desempenha no drama do grande conflito. Escreveu, então, diversos livretos sobre o sábado, mas numa dimensão “adventista” (Seventh Day Sabbath, a Perpetual Sign; Tract Showing that the Seventh Day Should Be Observed as the Sabbath; Vindication of the Seventh-day Sabbath e A Seal of the Living God). Bates desenvolveu os seguintes argumentos que foram aceitos pelos pioneiros adventistas e fazem parte de nossas crenças fundamentais.

O dragão está irado contra os filhos de Deus, que guardam os mandamentos (incluindo o 4º mandamento) e têm a fé em Jesus (Ap 12:17).

A marca do povo remanescente inclui a guarda dos mandamentos (Ap 14:12).

A essência da proclamação da primeira mensagem angélica é a vinda do juízo no contexto da verdadeira adoração. Em Apocalipse 14:7, é aludida a mesma linguagem presente no 4º mandamento. A terceira mensagem angélica trata sobre os castigos daqueles que seguem a falsa adoração preconizada pela “besta”. Assim, a verdadeira adoração do sábado está em contraste direto com a falsa adoração do domingo.

Assim como o sábado foi um sinal de lealdade a Deus no Antigo e no Novo Testamento, será também no fim da história. A tríplice aliança do mal rejeita os mandamentos como sinal de lealdade. Em contrapartida, os fiéis à nova aliança são descritos como obedientes aos mandamentos de Deus.

Crença Fundamental nº 20: “O bondoso Criador, após os seis dias da criação, descansou no sétimo dia e instituiu o sábado para todas as pessoas como memorial da criação. O quarto mandamento da imutável lei de Deus requer a observância deste sábado do sétimo dia como dia de descanso, adoração e ministério, em harmonia com o ensino e prática de Jesus, o Senhor do sábado. Esse é um dia de deleitosa comunhão com Deus e de uns com os outros. É símbolo de nossa redenção em Cristo, sinal de nossa santificação, uma prova de lealdade e antegozo de nosso futuro eterno no reino de Deus. O sábado é o sinal perpétuo do eterno concerto de Deus com Seu povo. A prazerosa observância deste tempo sagrado duma tarde à outra tarde, do pôr do sol ao pôr do sol, é uma celebração dos atos criadores e redentores de Deus.”

OBSERVÂNCIA DO SÁBADO (texto oficial da IASD sobre a necessidade e importância da observância [prática] do sábado).

“A Igreja Adventista do Sétimo Dia reconhece o sábado como sinal distintivo de lealdade a Deus (Êx 20:8-11; 31:13-17; Ez 20:12, 20), cuja observância é pertinente a todos os seres humanos em todas as épocas e lugares (Is 56:1-7; Mc 2:27). Quando Deus “descansou” no sétimo dia da semana da criação, Ele também “santificou” e “abençoou” esse dia (Gn 2:2, 3), separando-o para uso sagrado e transformando-o em um canal de bênçãos para a humanidade. Aceitando o convite para deixar de lado seus “próprios interesses” durante o sábado (Is 58:13), os filhos de Deus observam esse dia como uma importante expressão da justificação pela fé em Cristo (Hb 4:4-11).”

A observância do sábado é enunciada em Isaías 58:13, 14 nos seguintes termos: “Se desviares o pé de profanar o sábado e de cuidar dos teus próprios interesses no Meu santo dia; se chamares ao sábado deleitoso e santo dia do Senhor, digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, não pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falando palavras vãs, então, te deleitarás no Senhor.” Com base nesses princípios, a Divisão Sul-Americana da Igreja Adventista do Sétimo Dia reafirma neste documento seu compromisso com a fidelidade à observância do sábado.


Vida de santificação. A verdadeira observância do sábado se fundamenta em uma vida santificada pela graça de Cristo (Ez 20:12, 20); pois, “a fim de santificar o sábado, os homens precisam ser santos” (O Desejado de Todas as Nações, p. 283).

Crescimento espiritual. Como “um elo de ouro que nos une a Deus” (Testemunhos Para a Igreja, v. 6, p. 352), o sábado provê um contato mais próximo com Ele. Como tal, não devemos permitir que outras atividades, por mais nobres que sejam, enfraqueçam nossa comunhão com o Criador nesse dia.

Preparação para o sábado. Antes do pôr do sol da sexta-feira (cf. Lv 23:32; Dt 16:6; Ne 13:19), as atividades seculares devem ser interrompidas (cf. Ne 13:13-22); a casa deve estar limpa e arrumada; as roupas, lavadas e passadas; os alimentos, devidamente providenciados (cf. Êx 16:22-30); e os membros da família, já prontos.

Início e término do sábado. O sábado é um dia de especial comunhão com Deus, e deve ser iniciado e terminado com breves e atrativos cultos de pôr do sol, com a participação dos membros da família. Nessas ocasiões, é oportuno cantar alguns hinos, ler uma passagem bíblica, seguida de comentários pertinentes, e expressar gratidão a Deus em oração (Ver Testemunhos Para a Igreja, v. 6, p. 356-359).

Pessoas sob nossa influência. O quarto mandamento do Decálogo orienta que, no sábado, todas as pessoas sob nossa influência devem ser dispensadas das atividades seculares (Êx 20:10). Isso implica os demais membros da família, bem como os empregados e hóspedes a fim de que também sejam estimulados a observar o sábado.

Espírito de comunhão. Como dia por excelência de comunhão com Deus (Ez 20:12, 20), o sábado deve se caracterizar por um prazeroso e alegre compromisso com as prioridades espirituais, com momentos especiais de leitura da Bíblia, oração e, se possível, de contato com a natureza (cf. At 16:13). Esse compromisso deverá ser mantido na escolha dos assuntos abordados também em nossos diálogos informais com familiares e amigos.

Reuniões da igreja. Somos admoestados a não deixar “de congregar-nos, como é costume de alguns” (Hb 10:25). Portanto, as programações e atividades regulares da igreja aos sábados devem ter precedência sobre outros compromissos pessoais e sociais, mesmo que estes sejam condizentes com o sábado.

Casamentos e festas. O convite para deixar de lado nossos “próprios interesses” no sábado (Is 58:13) indica que casamentos e festas, incluindo seus devidos preparativos, devem ser realizados fora desse período sagrado. Casamentos e algumas festas mais suntuosas não devem ser planejados para os sábados à noite, pois seus preparativos envolvem expectativas e atividades não condizentes com o espírito de comunhão com Deus.

Mídia secular. A mídia secular, em todas as suas formas, deve ser deixada de lado durante as horas do sábado, para que este, rompendo com a rotina da vida, possa ser um dia “deleitoso e santo” (Is 58:13).

Esportes e lazer. Muitas atividades esportivas e de lazer, aceitáveis durante a semana, não são condizentes com a observância do sábado, pois desviam a mente das questões espirituais (Is 58:13).

Horas de sono. A Bíblia define o sábado como dia de “repouso solene” (Êx 31:15), e não como dia de recuperar o sono atrasado da semana. Ricas bênçãos advirão de levantar cedo no sábado, dedicando esse dia ao serviço do Senhor (Ver Conselhos Sobre a Escola Sabatina, p. 170).

Viagens. A realização de viagens por questões de trabalho ou interesses particulares é imprópria para o sábado. Existem, porém, ocasiões excepcionais em que se torna necessário viajar no sábado para atender a algum compromisso religioso ou situações emergenciais. Sempre que possível, os devidos preparativos, incluindo a compra de passagens e o abastecimento de combustível, devem ser feitos com a devida antecedência. (Ver Testemunhos Para a Igreja, v. 6, p. 359 e 360.)

Excursões e acampamentos. A realização de excursões e acampamentos pode promover a socialização cristã (cf. Sl 42:4). Mas seus organizadores e demais participantes devem chegar ao devido local antes do início do sábado e montar sua estrutura, incluindo suas barracas, de modo que o santo dia possa ser observado segundo o mandamento. Além disso, as atividades durante as horas do sábado devem ser condizentes com o espírito sagrado desse dia.

Restaurantes e alimentação. A recomendação de que o alimento deve ser provido com a devida antecedência (Êx 16:4, 5; 22-30) significa que ele deve ser comprado fora das horas do sábado, e que a frequência a restaurantes comerciais nesse dia deve ser evitada.
Medicamentos. A compra de medicamentos durante o sábado é aceitável em situações emergenciais (cf. Lc 14:5), e imprópria quando a pessoa já os necessitava, e acabou postergando sua compra para esse dia.

Estágios e práticas escolares. O quarto mandamento do Decálogo (Êx 20:8-11) desabona a realização de atividades seculares no sábado, que gerem lucro ou benefício material. Envolvidos em tais atividades estão os programas de planejamento e preparo para a vida profissional, incluindo a frequência às aulas e a participação em estágios, simpósios, seminários e palestras de cunho profissional, concursos públicos e exames seletivos. Em caso de confinamento para a prestação de exames após o término do sábado, as horas desse dia devem ser gastas em atividades espirituais.

Escolha e exercício da profissão. A estrutura da sociedade em geral nem sempre favorece a observância do sábado, e acaba disponibilizando profissões e atividades que, embora sejam dignas, dificultam essa prática. Os adventistas do sétimo dia devem escolher e exercer profissões condizentes com a devida observância do sábado. Somos advertidos de que, se alguém, “por amor ao lucro, consente em que o negócio em que tem interesse seja atendido no sábado pelo sócio incrédulo, esse alguém é tão culpado quanto o incrédulo; e tem o dever de dissolver a sociedade, por mais que perca por assim proceder” (Evangelismo, p. 245).

Instituições de serviços básicos. A orientação de não fazer “nenhum trabalho” durante o sábado (Êx 20:10) indica que os observadores do sábado devem se abster de trabalhar nesse dia, mesmo em instituições seculares de serviços básicos. Instituições denominacionais que não podem fechar aos sábados (cf. Jo 5:17), incluindo os internatos adventistas, devem ser operadas nesse dia por um grupo reduzido e em forma de rodízio.

Atividades médicas e de saúde. Existem situações emergenciais que os profissionais da saúde devem atender, com base no princípio de que “é lícito curar no sábado” (Lc 14:3). Os hospitais adventistas necessitam dos préstimos de uma equipe médica, de enfermagem e de outros serviços básicos para o funcionamento nas horas do sábado. Mas os plantões rotineiros, tanto médicos quanto de enfermagem, em hospitais não adventistas, são impróprios para as horas do sábado (Ver Ellen G. White Estate, “Conselhos de Ellen G. White Sobre o Trabalho aos Sábados em Instituições Médicas Adventistas e Não Adventistas”, em www.centrowhite.org.br).

Projetos assistenciais. Cristo disse que “é licito, nos sábados, fazer o bem” (Mt 12:12). Isso significa que “toda atividade secular deve ser suspensa, mas as obras de misericórdia e beneficência estão em harmonia com o propósito do Senhor. Elas não devem ser limitadas a tempo ou lugar. Aliviar os aflitos, confortar os tristes, é um trabalho de amor que faz honra ao dia de Deus” (Beneficência Social, p. 77). Portanto, é lícito nas horas sagradas do sábado visitar enfermos, viúvas e órfãos, encarcerados e compartilhar uma refeição. Ações sociais que podem ser realizadas em outro dia não devem tomar as sagradas horas do sábado.

Atividades missionárias. O apóstolo Paulo usava o sábado para persuadir “tanto judeus como gregos” acerca do evangelho (At 18:4, 11; cf. 17:2), demonstrando a importância de se reservar um tempo especial nesse dia para atividades missionárias. Sempre que possível, os membros da família devem participar juntos dessas atividades, para desfrutar a socialização cristã e desenvolver o gosto pelo cumprimento da missão evangelística.

“Como adventistas do sétimo dia, somos convidados a seguir o exemplo de Deus ao descansar no sétimo dia da semana da criação (Gn 2:2-3; Êx 20:8-11; 31:13-17; Hb 4:4-11), de modo que o sábado seja, para cada um de nós, um sinal exterior da graça de Deus e um canal de Suas incontáveis bênçãos.”

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Comentário da Lição 06




Lição 6 - Deus, o Legislador


Sobre o autor: Edilson Valiante nasceu em São Paulo. Formou-se em Teologia em 1979. Por mais de 20 anos serviu como professor da Faculdade Adventista de Teologia. Foi distrital, departamental de Educação e JA. Atualmente é o Secretário Ministerial da União Central Brasileira. Casado com a professora Nely Doll Valiante, tem dois filhos: Luciene e Eduardo.

Introdução
    A expressão torah é a mais comum no Antigo Testamento para “lei”. Ela contém um rico significado, sendo traduzida também comoordem, instrução, estatuto e ensino. Nessa palavra estão incluídas tanto a lei moral como as leis civis, sanitárias, comunitárias, cerimoniais e até os cinco primeiros livros da Bíblia, o Pentateuco de Moisés. Em suma, tudo aquilo que pudesse representar a vontade revelada de Deus poderia ser chamado de torah.

    O termo grego do Novo Testamento que equivale à expressão hebraica torah é nomos. No seu contexto bíblico, possui igualmente um significado vasto, podendo ser “a vontade de Deus” (Jo 15:25), “o Pentateuco” (Mt 7:12), “os 10 mandamentos” (Tg 2:10-12), “as leis cerimoniais” (At 15:1) e até toda uma tradição religiosa dentro do judaísmo farisaico/rabínico como apresentado em Gálatas.

    Como vimos, a Bíblia possui uma quantidade considerável de leis. É comum que essas leis sejam confundidas entre si. Mesmo porque elas foram promulgadas por Deus. Contudo, temos que entender seu propósito, sua extensão, aplicação e vigência no tempo.

    Leis de caráter físico (leis naturais). São as leis que regem o Universo material, como a lei da gravidade e da saúde.

    Leis que existiam antes da entrada do pecado. O sábado e a lei que proibia tocar no fruto da árvore da ciência do bem e do mal são exemplos.

    Leis cerimoniais. Essas leis aparecem logo em Gênesis 4, quando Caim e Abel são ensinados a oferecer sacrifícios. Os patriarcas ofereciam seus holocaustos. O sistema levítico e a construção do tabernáculo (e depois o templo) era uma elaboração dessa lei cerimonial que tinha como objetivo direto ilustrar o plano da redenção e o Grande Conflito (ver os livros de Levíticos e Hebreus). Se os sacrifícios representavam tipologicamente Cristo, as leis cerimoniais foram estabelecidas com prazo de validade.

    Leis civis e comunitárias. Há na Bíblia uma quantidade de princípios ordenados por Deus para que as relações pessoais e nacionais fossem mantidas. As leis que falavam da posse da terra e dos casamentos, do jubileu são exemplos. O objetivo delas era preservar a justiça social e a equidade.

    Lei moral ou os 10 mandamentos (Decálogo). São princípios singulares que estabelecem os valores morais e éticos sob os quais os seres humanos devem nortear sua vida em todos os tempos e lugares. Essa lei é, portanto, de caráter universal. É a expressão máxima da vontade de Deus para o ser humano, bem como uma revelação de Sua santidade (especialmente os quatro primeiros mandamentos).

    Os Dez Mandamentos foram dados em forma negativa para definir sua exatidão. Há sempre uma tendência humana de relativizar a vontade de Deus e a forma negativa dos mandamentos não deixa possibilidade para equívocos quanto à Sua vontade.

    Há duas motivações claras para que o Decálogo fosse dado ao povo de Deus: Ele é o nosso Deus e nos liberta da servidão e do pecado.
    Nos Dez Mandamentos, Deus é o Legislador e o Redentor ao mesmo tempo.

    Os dois primeiros mandamentos definem o caráter dos demais: nosso Deus Se preocupa com santidade, família e relacionamentos. Não pode tolerar infidelidade.

    O terceiro e o quarto mandamentos tratam das coisas sagradas: Seu nome e Seu dia de adoração.

    Do quinto ao sétimo mandamento Deus estabelece o valor da família, da sexualidade e da vida.

    Os últimos mandamentos tratam da relação entre os indivíduos e a sociedade.

    Os Dez Mandamentos aparecem expressos em duas ocasiões no Pentateuco: em Êxodo 20 (destacando Deus como Criador) e em Deuteronômio 5 (destacando Deus como Redentor e Libertador).

    Assim, o Decálogo pode ser sumarizado em dois grandes princípios: Amor a Deus e amor ao próximo (Mt 22:37-40).

    A maneira de Deus revelar os Dez Mandamentos em forma escrita (já existia em forma oral) é totalmente distinta da instauração de outras leis presentes na Bíblia. O texto foi escrito pelo próprio “dedo de Deus”.

    A experiência da autorrevelação de Deus ao povo de Israel no Sinai com o Decálogo foi tão impactante que o próprio conceito de vida e existência passou a ser mediado por esses princípios, ora por rejeição (como durante a história dos reis de Israel e Judá) ora por absoluto fanatismo (como entre os fariseus e o judaísmo rabínico).

A Lei é expressão do caráter de Deus
    Se a vontade de Deus está expressa de forma objetiva na Sua lei, duas coisas podem ser deduzidas: ela é imutável e é a expressão de Seu caráter.

    A lei permanecerá em vigência enquanto o caráter de Deus estiver inalterado. Como Deus é sempre o mesmo (Sl 102:25-27) e Cristo é sempre o mesmo (Hb 13:8), a lei Deus sempre será a mesma.

    Muitos dos atributos de Deus são encontrados na lei. Como Deus, a lei é perfeita, santa, pura, justa, boa (Sl 19:7-8; Rm 7:12).

    No drama do Grande Conflito, é obvio que Satanás luta contra o caráter de Deus expresso em Sua lei. Com isso entendemos a disposição do inimigo em se opor violentamente à lei. Sem dúvida, uma das evidências mais claras de que a lei é o reflexo do caráter de Deus é o incomensurável ataque de Satanás contra a lei. Com certeza, se os princípios da lei forem desqualificados, ficará muito mais fácil induzir os seres humanos a se voltar contra Deus. O arquienganador tem sido bem-sucedido em seus esforços, pois o atributo divino de legislador é o menos compreendido pela teologia cristã.

    Deus é amor (1Jo 4:8) e todos aqueles que O amam, reconhecem Seu amor, Sua vontade e guardam Seus mandamentos (1Jo 2:3-6).

    Amor é o princípio fundamental da lei. Jesus usou textos de Deuteronômio (6:4) e Levítico (19:18) para expressar a essência da lei – amor a Deus e amor ao próximo. Paulo expõe a lei nos mesmos termos em Romanos 13:8-9. Assim, cada um dos mandamentos reflete amor e, ao mesmo tempo, revela a natureza egoísta do ser humano. Não é possível, portanto, guardar os mandamentos sem que o amor seja a real força direcionadora, isto é, a obediência verdadeira sempre se origina no coração e se realiza na prática pelo amor. A obediência à lei que não vem do amor é incapaz de cumprir a exigência que ela reclama. Se alguém tentar fazer isso, o resultado será uma religião formal, baseada em uma atitude farisaica ou legalista.

    O Decálogo é de natureza espiritual. Paulo deixa evidente em Romanos 7:14 que “a lei é espiritual”. A partir dessa compreensão, é possível tirar algumas conclusões:

    Se eu tento guardar a lei de forma exterior ou formal, destituída de espiritualidade, certamente me tornarei um legalista, apenas tentando cumprir exigências.

    Se a lei é espiritual, ela jamais me leva a algo errado ou destrutivo. A lei em si não é má porque revela minha maldade, meus pecados. É o pecado que me escraviza, e não a lei. Esta, ao contrário, me conduz à verdadeira liberdade. No Sermão da Montanha, Jesus deixou claro o caráter espiritual da lei e sua função na vida do crente.

    Se a lei é espiritual, ela revela meus pecados e me conduz a Cristo. Sua vida em plena obediência à lei e Sua morte em meu lugar me leva a concluir que Jesus cumpriu a lei e não a aboliu. O próprio sacrifício de Cristo na cruz comprova que Deus não aboliu a lei moral. Ao aceitar Cristo, recebo essa obediência vicariamente. Cristo cumpriu a lei para me dar liberdade contra o pecado e não a “liberdade” para transgredir a lei.

    Se a lei é espiritual, ela é imutável. É isso que vemos no livro de Apocalipse: a lei é uma marca encontrada no remanescente quando Jesus voltar (14:12).

    Ellen G. White expõe de forma inspirada a relação entre o pecado, a lei e a liberdade que há em Cristo. “Muitos ensinadores religiosos afirmam que Cristo, por Sua morte, aboliu a lei, e, em virtude disso, os homens estão livres de suas reivindicações. Alguns há que a representam como um jugo penoso; e em contraste com a servidão da lei apresentam a liberdade a ser desfrutada sob o evangelho.

“Não foi, porém, assim que profetas e apóstolos consideravam a santa lei de Deus. Disse Davi: ‘Andarei em liberdade, pois busquei os Teus preceitos’ (Sl 119:45). O apóstolo Tiago, que escreveu depois da morte de Cristo, se refere ao decálogo como a ‘lei real’ e a ‘lei perfeita da liberdade’ (Tg 2:8; 1:25). E o livro  do Apocalipse, meio século depois da crucifixão, pronunciou uma bênção aos que ‘guardam os Seus mandamentos, para que tenham direito à árvore da vida, e possam entrar na cidade pelas portas’ (Ap 22:14).

“A declaração de que Cristo por Sua morte aboliu a lei do Pai, não tem fundamento. Se tivesse sido possível mudar a lei, ou pô-la de parte, não teria sido necessário que Cristo morresse para salvar o homem da pena do pecado. A morte de Cristo, longe de abolir a lei, prova que ela é imutável. O Filho do homem veio para ‘engrandecer a lei, e torná-la gloriosa’ (Is 42:21). Disse Ele: ‘Não cuideis que vim destruir a lei’; ‘até que o céu e a Terra passem nem um jota ou um til se omitirá da lei’ (Mt 5:17 e 18). E, com relação a Si mesmo, declarou Ele: ‘Deleito-Me em fazer a Tua vontade, ó Deus Meu; sim, a Tua lei está dentro do Meu coração’ (Sl 40:8).


“A lei de Deus, por sua própria natureza, é imutável. É uma revelação da vontade e caráter do Autor. Deus é amor e Sua lei é amor. Seus dois grandes princípios são amor a Deus e amor ao ser humano. ‘O cumprimento da lei é o amor’ (Rm 13:10). O caráter de Deus é justiça e verdade; essa é a natureza de Sua lei. Diz o salmista: ‘Tua lei é a verdade’; ‘todos os Teus mandamentos são justiça’ (Sl 119:142 e 172). E o apóstolo Paulo declara: ‘A lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom’ (Rm 7:12). Tal lei, sendo expressão do pensamento e vontade de Deus, deve ser tão duradoura como Seu Autor.


“É obra da conversão e santificação reconciliar os homens com Deus, pondo-os em harmonia com os princípios de Sua lei. No princípio, o homem foi criado à imagem de Deus. Estava em perfeita harmonia com a natureza e com a lei de Deus; os princípios da justiça lhe estavam escritos no coração. O pecado, porém, alienou-o do Criador. Não mais refletia a imagem divina. O coração estava em guerra com os princípios da lei de Deus. ‘A inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser’ (Rm 8:7). Mas ‘Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito’ (Jo 3:16), para que o homem pudesse reconciliar-se com Ele. Mediante os méritos de Cristo, o ser humano pode se restabelecer à harmonia com o Criador. O coração deve ser renovado pela graça divina; deve receber nova vida de cima. Essa mudança é o novo nascimento, sem a qual, diz Jesus, o homem ‘não pode ver o reino de Deus’.


“O primeiro passo na reconciliação com Deus, é a convicção de pecado. ‘Pecado é o quebrantamento da lei.’ ‘Pela lei vem o conhecimento do pecado.’ (1Jo 3:4; Rm 3:20) A fim de ver sua culpa, o pecador deve provar o próprio caráter pela grande norma divina de justiça. É um espelho que mostra a perfeição de um viver justo, habilitando o pecador a discernir seus defeitos de caráter.


“A lei revela ao homem os seus pecados, mas não provê remédio. Ao mesmo tempo que promete vida ao obediente, declara que a morte é o quinhão do transgressor. Unicamente o evangelho de Cristo o pode livrar da condenação ou contaminação do pecado. Ele deve exercer o arrependimento em relação a Deus, cuja lei transgrediu, e fé em Cristo, seu sacrifício expiatório. Assim, ele obtém ‘remissão dos pecados passados’ e se torna participante da natureza divina. É filho de Deus, tendo recebido o espírito de adoção, pelo qual clama: ‘Aba, Pai!’


“Estaria agora na liberdade de transgredir a lei de Deus? Diz Paulo: ‘Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma, antes estabelecemos a lei.’ ‘Nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?’ E João declara: ‘Esta é a caridade de Deus: que guardemos os Seus mandamentos; e os Seus mandamentos não são pesados’ (Rm 3:31; 6:2; 1Jo 5:3) No novo nascimento o coração é posto em harmonia com Deus, ao colocar-se em conformidade com Sua lei. Quando esta poderosa transformação se efetua no pecador, ele passa da morte para a vida, do pecado para a santidade, da transgressão e rebelião para a obediência e lealdade” (GC, 466-468).


    Quais são os propósitos da lei?

    Evidentemente, a lei moral não foi dada com o objetivo de resolver o problema do pecado. Muito menos servir como instrumento de salvação, como imaginavam os fariseus. A lei existia antes do pecado, pois sem lei não haveria pecado. A lei moral de Deus é universal e eterna como o próprio Deus.

    Visto ser a lei a expressão do caráter de Deus, ela tem como propósito fornecer definições quanto à santidade de Deus e dizer qual seria o estado de santidade que devem ter Seus filhos, mesmo depois do pecado. Na santificação, o ser humano é dotado pelo Espírito de poder para ter uma vida santa (em obediência e harmonia com Deus e com os semelhantes).

    A lei é um símbolo de obediência e amor (Jo 14:15, 21, 24).

    Por outro lado, como diz 1 Coríntios 15:56, a lei é “a força do pecado”, pois torna o pecado um ato de rebelião clara contra os princípios estabelecidos por Deus. Pecado é transgressão da lei e aberta rebelião contra o Legislador.

    A lei é o “aio” (pedagogo) que, ao me convencer de que sou pecador, me conduz a Cristo (Gl 3:22-24).

    A lei tem um caráter civil. Lutero e Calvino indicavam que o ser humano, vivendo em uma sociedade cristã, deve nortear seus relacionamentos pelos mandamentos. Como fizeram outros teólogos, Lutero e Calvino diziam que há mandamentos que são naturais ao ser humano (não matar, por exemplo) e outros que têm origem na revelação (como os primeiros quatro mandamentos).

    Agostinho, em sua obra Confissões, afirma que a lei chega até a instigar o pecado. Quando a fruta está no terreno do vizinho ela é mais saborosa... Essa é uma indicação de que a lei chega a provocar a prática do pecado.

Perpetuidade da Lei Moral
    Se a lei é eterna, sua autoridade prevalece acima de tempo e lugar. A perpetuidade da lei é identificada do Gênesis ao Apocalipse.
     A lei antes do Sinai.

    Os mandamentos não aparecem de forma explícita como preceitos de um Decálogo antes do Sinai, mas os princípios que estabelecem cada mandamento são evidentes antes de Êxodo 20.

    As instruções dadas por Jacó aos seus filhos quanto à adoração em Betel evidenciam o conhecimento que ele tinha dos dois primeiros mandamentos (Gn 35:2-3).

    O terceiro mandamento é aludido por Abraão quando faz seu servo jurar pelo Senhor (Gn 24:3).

    A santidade do sábado do quarto mandamento está presente logo em Gênesis 2. O maná não era concedido ao povo de Israel aos sábados e isso antes da promulgação da lei (Êx 16).

    O quinto mandamento é aludido na conversa entre o Senhor e Abraão antes da destruição de Sodoma e Gomorra (Gn 18:19).

    O sexto mandamento é frequentemente trazido à tona desde o evento de Gênesis 4, com o assassinato de Abel por Caim. Os irmãos de José mostram a validade do mandamento ao pouparem a vida de José.

    Abraão e o “oferecimento” de Sara ao faraó e a experiência de José diante da esposa de Potifar mostram que os patriarcas tinham muito claro o perigo expresso da transgressão do sétimo mandamento.

    O oitavo mandamento estava na mente dos filhos de Jacó quando foram acusados de ter roubado o copo pertencente à autoridade egípcia (Gn 44:8).

    Quando Jacó enganou seu pai Isaque e quando foi enganado por seu sogro Labão, evidenciaram o conhecimento do nono mandamento.

    O décimo mandamento serve de pano de fundo para a história entre Abraão e faraó e, novamente, entre Abraão e Abimeleque. O próprio anseio de Jacó pelo direito de primogenitura indica o conhecimento do mandamento (Gn 27).

    É marcante como o livro de Jó demonstra conhecimento da lei de Deus, especialmente no capítulo 31. Ali, vários mandamentos são claramente aludidos. Jó tinha o discernimento absoluto da justiça de Deus e de Seu julgamento.

    V. 1: cobiçar mulheres
    V. 5: falsidade e engano
    V. 9: sedução por mulher
    V. 13: justiça aos servos e servas
    V. 24ss: adoração ao Deus verdadeiro

    A referência de Paulo em Romanos 5:13, de que não haveria pecado antes da existência da lei, mostra que esta existia sob forma oral desde a criação. Se assim não fosse, como conclui Paulo, Adão e Eva não teriam pecado. O mesmo argumento é usado em relação à morte. Se o pecado leva à morte e é a lei que determina a morte e se a “morte reinou desde Adão a Moisés”, assim a lei é anterior a Moisés (Rm 5:14-16).

    A revelação dos mandamentos de forma explícita no Sinai evidencia a aliança que Deus desejava estabelecer com Seu povo. O propósito da escolha do povo de Israel não era um fim em si mesmo (exclusividade), mas seria uma ilustração do Deus verdadeiro diante das nações. Assim, a lei moral dada a Israel deveria eventualmente ser admitida por todos os povos. O caráter universal da lei não foi reduzido no Sinai para ser de exclusividade a Israel. Ao contrário, Israel representaria diante das nações a universalidade da lei. Infelizmente, eles não compreenderam assim e julgaram ter bênçãos exclusivas de Deus em virtude de a lei ter sido revelada a eles. Aqui se encontra a origem daquilo que a Bíblia fala de “antiga aliança” (a transformação de uma aliança universal em uma aliança exclusiva). O Mishnah chega ao absurdo de entender que a exclusividade é que fazia de Israel a única nação que poderia ser abençoada. A lei era uma bênção exclusiva de Israel e quanto mais leis eles tivessem, maiores seriam as bênçãos. Por isso foram multiplicadas as tradições em torno da lei e se entendeu que a salvação deveria ser mediada pela lei exclusivamente.

    Os Dez Mandamentos serviram de base para o estabelecimento da aliança entre Deus e Seu povo (Israel). A mesma base está presente em qualquer ocasião em que Deus estabeleça Seus concertos com os seres humanos. O problema não está na “base”, mas na maneira de se responder a ela. O cristão está sob a mesma circunstância. A experiência da fé em Cristo faz da lei um sinal de obediência à vontade de Deus em amor. Não somos salvos pela obediência à lei, mas porque somos salvos, obedecemos à lei.

    A lei moral cobra compromisso pessoal com o Criador e Libertador e não com uma instituição jurídica. A lei é essencialmente relacional. Ela produz vida, alegria e justiça (familiar e civil).

    A perpetuidade da lei é confirmada pelos ensinos, vida e morte de Jesus.

    Ao Jesus atestar a igualdade entre os mandamentos (Mt 22:35ss), Ele estava descaracterizando a compreensão rabínica que estabelecia uma hierarquia entre os mandamentos. Os fariseus pensavam que, caso um se opusesse ao outro a observância do maior dava liberdade de desobediência a um menor. Para Jesus, todos os mandamentos são importantes e devem ser observados.

    Jesus exemplificou a lei. Para Ele, a lei era essencialmente amor.

    A perpetuidade da lei é claramente defendida por Jesus, como em Mateus 5:18.

    Na história do jovem rico, Jesus expôs a maneira legalista de guardar a lei em contraste com a forma relacional. O jovem não se recusou a guardar os mandamentos; ele se recusou a seguir o Legislador (Mc 10:21).

    No relato da mulher pega em adultério, Jesus novamente ratificou a autoridade da lei quando disse a ela “vai e não peques mais” (Jo 8:11).

    Como já foi aqui exposto, a cruz é a maior prova da perpetuidade da lei. Aquele que aceita o Legislador como seu Salvador pessoal, passou da morte para a vida.

    Paulo não apenas guardou a lei, mas mostrou o propósito da lei. A lei não salva e não torna ninguém pecador. A lei traz o conhecimento do pecado e faz o pecador saber que está vivendo em pecado. Assim, o que cria a culpa não é a lei, mas o pecado. Como a lei é “santa, justa e boa” ela mostra o que o pecador não é: nem santo, nem justo, nem bom.

    No Apocalipse, a lei ganha um caráter escatológico:
    Satanás faz guerra contra os que guardam a lei (Ap 12:17).

    A marca dos salvos está ligada à guarda dos mandamentos (Ap 14:12).

    O lago de fogo é o fim daqueles que não guardam a lei (Ap 21:7-8). Assim, a lei é o critério para a condenação dos ímpios.

    Crença fundamental nº 19: “Os grandes princípios da lei de Deus são incorporados nos Dez Mandamentos e exemplificados na vida de Cristo. Expressam o amor, a vontade e os propósitos de Deus acerca da conduta e das relações humanas e são obrigatórios a todas as pessoas, em todas as épocas. Esses preceitos constituem a base do concerto de Deus com Seu povo e a norma no julgamento de Deus. Por meio da atuação do Espírito Santo, eles apontam para o pecado e despertam o senso da necessidade de um Salvador. A salvação é inteiramente pela graça, e não pelas obras, mas seu fruto é a obediência aos mandamentos. Essa obediência desenvolve o caráter cristão e resulta numa sensação de bem-estar. É uma evidência de nosso amor ao Senhor e de nossa solicitude por nossos semelhantes. A obediência da fé demonstra o poder de Cristo para transformar vidas e fortalece, portanto, o testemunho cristão.”